Texto

Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 26 de julho de 2014

Olá amigos


Por respeito com os meus leitores/seguidores informo que provavelmente na próxima semana não farei qualquer publicação. Espero regressar na semana seguinte.
Votos de boas férias para quem as está a gozar e bom trabalho para quem está ao serviço.


Alexandre Ribeiro



terça-feira, 15 de julho de 2014



AINDA A PRIMEIRA GRANDE GUERRA


É impossível não voltar ao tema, agora que passaram 100 anos do início do grande conflito bélico que pôs a Europa (e parte do mundo) a ferro e fogo, em sentido literal. Ainda por cima uma guerra estúpida em vários domínios, conforme hoje se torna visível. É tal o horror que temos de deixar para as gerações vindouras alguns testemunhos impressivos que sejam um permanente alerta.
Escolhi hoje alguns excertos da Revista do Expresso de 12 de Julho de 2014.


“Os generais parecem condenados a raciocinar sempre com uma guerra de atraso. A Primeira Guerra Mundial começou a ser travada com as armas do futuro e as táticas do passado”.


 “Para conquistar milímetros de solo inimigo os franceses perdem uma geração de soldados que a demografia nunca conseguirá repor. Só de 20 a 22 de Agosto (de 1914) vão ter 130.000 mortos. E até Setembro os aliados somarão 250 mil perdas”.


 “O balanço da batalha de Somme, travada num terreno pouco maior que a cidade de Lisboa, é tremendo; quase um milhão de baixas. Mas a frente voltou ao traçado inicial e a ofensiva alemã deu em nada, estrategicamente falando”.


 A mortalidade global da Grande Guerra foi de quase dez milhões de soldados. A maior mortandade atingiu os seguintes exércitos:
    Alemanha – 2.037.000 (15%)
    Rússia – 1.800.000 (15%)
    França 1.385.300 (16%)
    Áustria-Hungria – 1.016.200 (13%)
    Reino Unido 702.410 (12%)
    Itália – 462.400 (8%)
    Turquia – 236.000 (9%)


 Sobre Hitler – “tentou a sorte como pintor em Munique, mas não teve sucesso. Tinha 25 anos quando estalou a guerra e oferece-se como voluntário. Nunca passará de cabo, pois os seus superiores não lhe viam qualidades de chefia”.
“Deixando aqui um dado para o exercício da história alternativa: que teria acontecido se o soldado britânico que feriu Hitler tivesse tido melhor pontaria?”



sábado, 12 de julho de 2014


RESPIGANDO AQUI E ALI

Temos vergonha de não assumir, de não querer espalhar a cultura da nossa civilização que vem dos alicerces greco-latinos e judaico-cristãos. Vergonha de andar a pedir desculpa pelo que fizemos de errado no mundo, quando todos no mundo o fizeram – a escravatura, a inquisição, o colonialismo. A culpa de pensar que fomos os maus da História

A culpa de defender que todas as culturas se equivalem, que tudo nos é possível, porque nada está acima do indivíduo

Henrique Monteiro – Expresso de 5 de Julho de 2014.

 

Quem acreditou que o problema era Sócrates e agora o problema é Passos Coelho está condenado a saltar de salvador da pátria para salvador da pátria e de desilusão para desilusão.

Daniel Oliveira – Expresso de 5 de Julho de 2014

 

Enquanto se discute o estado da nação ou o presidente faz o seu enésimo apelo aos consensos mais visível se torna que somos uma nação politicamente dividida.

De um lado a maioria a contar uma história de libertação e a acenar com um país de crescimento e de emprego; de outro, uma oposição que, olhando para o mesmo país, vê um cenário de devastação económica e um futuro estrangulado. Nestes três anos acentuaram-se as divergências na frente externa e somaram-se ruturas no que eram pontos de consenso nucleares nas políticas públicas, particularmente na educação e segurança social. Este é um governo de ruturas. É, claro, uma opção legítima, mas tem consequências: torna improdutivo qualquer apelo ao consenso.

Pedro Adão e Silva - Expresso de 5 de Julho de 2014

 

Sabe-se o preço do ajustamento mas não se sabe quanto teria custado o incumprimento.

Fernando Madrinha - Expresso de 5 de Julho de 2014

 

Este governo em três anos deu cabo de três gerações.

António José Seguro.

 

quinta-feira, 10 de julho de 2014


“O ANTIFRÁGIL” – reflexões sobre o capitalismo

“Há hoje uma classe capitalista que se comporta como verdadeiros sovietes e que aprende isso nas universidades.

O capitalismo foi construído com base em pessoas, podemos até dizer heróis, que gostavam do risco, produtores de riqueza e bem-estar também para a sociedade, que defendiam e promoviam a meritocracia e o valor do trabalho. Hoje esses heróis chamam-se burocratas, banqueiros, amigos das pessoas influentes, académicos frágeis e que não prestam contas a ninguém.

O trabalho está a perder valor porque o risco, a produção, a capacidade de liderar custa mais que o capital parado, porque os herdeiros dos antigos acumulam mais riqueza se não fizerem nada. Isto é, caminhamos até para a negação do capitalismo.”

Comentários/transcrições de Jorge Marques ao fazer a análise do livro “Antifrágil” de Nassim N. Taleb.

segunda-feira, 7 de julho de 2014



Já passaram 100 anos sobre o início da Primeira Guerra Mundial
Praticamente já não há sobreviventes desse período de horror e loucura que foi a Primeira Grande Guerra Mundial.
Olhando agora para trás custa a perceber (pelo menos a mim) o desvario, a futilidade e a inutilidade de uma guerra para a qual continuo sem perceber o sentido, por mais que leia e oiça.
E choca-me o profundo desprezo dos senhores do mundo perante os pacatos e indefesos cidadãos, verdadeiras marionetes ao sabor dos caprichos de quem manda.
Sem outras pretensões que não sejam o ativar um pouco a memória e o raciocino de quem se interessa por estes temas, aqui deixo alguns excertos respigados da revista Visão História de Junho 2014.
“Sem memória viveríamos entre quatro paredes de um pequeno quarto sem vista chamado presente”
“O inferno das trincheiras – cada minuto podia ser o último. Cada hora podia ser de despedida”.
“Nenhum dos lados fez recuar significativamente o adversário nos diversos ataques em larga escala empreendidos. Dezenas de milhares de homens morriam no corpo-a-corpo só para conquistarem uma faixa insignificante de terra e para os sobreviventes acabarem por se fixar novamente nas trincheiras”.
“Na primeira batalha do Marne, travada entre 7 e 12 de Setembro de 1914, entre aliados e alemães morreram ou ficaram feridos 500 mil homens, uma média de 100 mil por dia”
“Para o Tommy inglês, o Poilu francês, o Fritz alemão ou o José Maria português o que para eles estava em causa não foi tanto a defesa da pátria, mas sim a sua própria sobrevivência e a obrigação pessoal com os seus camaradas. E se alguma vez não lhes chorou a morte foi por se regozijar pelo facto de não ter sido ele o atingido por aquele estilhaço maldito”.
“As condições de Paz impostas pelos aliados em Versailhes são pesadas para a Alemanha e a sua população. Mas Hindenberg, contrariando o que dissera aos novos governantes alemães – reiterara-lhes não haver condições militares para prosseguir a guerra – tornou-se pouco depois um dos responsáveis pela difusão da “lenda da punhalada nas costas”, segundo a qual as forças armadas não estavam derrotadas; foram traídas pelo poder político, pelos que sabotaram o esforço de guerra, em especial os judeus, os socialistas e os bolchevistas. A nova Alemanha, republicana e democrata, transportou assim, desde a nascença,o gérmen que iria destruí-la, lançando daí a duas décadas o mundo noutro conflito à escala global e ainda mais devastador”.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Grupo 5.com(e) em Guimarães (III)

Não se percebe de onde vem o “dan”. Será que o proprietário praticou judo? Não são propriamente essas as artes que pratica quem vem a este “santuário”, onde o bacalhau é rei. É que a ementa apresenta nada menos que seis formas de preparar o que em tempos era apelidado de prato dos pobres e hoje é iguaria de ricos.
Com o Mota a salivar, mandamos vir 4 doses de bacalhau à Zé do Pipo, tendo o Bernardino optado por carne, que
considerou excelente. O fiel amigo estava com a salga no ponto e o sabor a despertar cócegas no palato. Só pecava pela dimensão das doses que, de tão generosas, permitiriam poupar uma dose em 4, sem qualquer prejuízo para comensais normais. Mas comeu-se tudo, pois, como diz um amigo meu, é preferível fazer mal do que deixar para o gato.
Nos aperitivos tínhamos prescindido de alheira com grelos, reduzindo a degustação às vulgares azeitonas e presunto. Nos vinhos deu-se preferência ao verde da casa, da Quinta Donegas, com o Jorge a permanecer fiel à água. Com tanta fidelidade ainda vai acabar a trabalhar para uma companhia de seguros. Nas sobremesas a opção maioritária foi para o pudim, que dizem que estava excelente, pois eu optei por uma laranja descascada, para desfazer o sabor do azeite.
A conta não ofereceu surpresas: 24 euros por cabeça, com 4 a pagar a refeição de 5.


Motoqueiros brasileiros
A sala estava muito composta, praticamente cheia. Tudo “cotas” e “cacos”, sem conotações pejorativas. Dentro do contexto, um bom ambiente, com indícios de estarmos perante um universo onde se vê que o dinheiro não é problema do dia-a-dia.
Ao nosso lado “estacionou” um grupo de motoqueiros brasileiros, já entradotes, que chegaram em reluzentes motas BMW’s, alugadas na Hertz. Depois de umas generosas e variadas entradas mandaram vir comida que dava para o dobro dos comensais, apesar de aparentarem ser bons garfos. Quem sabe se não tinham acabado de chegar do Algarve ou de Lisboa, cheios de larica, e ainda sem perceberam que o Norte é particularmente generoso quando toca a encher o prato. E não só. Mas metade da dose terá ficado na travessa, pois poucos heróis haverá capazes de vencer estes persistentes costumes nortenhos. 


Regresso à cidade
Após uma retemperadora sesta nos jardins do restaurante, era altura de regressar á cidade, não sem antes o Alexandre ter ido acariciar (na face) uma risonha estátua postada no jardim, enquanto o resto do grupo se refastelava nos sofás.
A viagem de regresso começou com um imprevisto: o Jorge antecipou-se a entrar na cabine do teleférico, pelo que teve de fazer uma viagem solitária, enquanto os restantes ficaram a resolver o problema do “nosso motorista”, que perdeu o bilhete, vai-se lá saber como. Valeu-lhe a simpatia da portageira, que acreditou na história (verdadeira) que lhe foi vendida pelo Bernardino, com inegável capacidade de persuasão.
O início da viagem foi turbulento, com os primeiros metros a uma velocidade vertiginosa (em termos relativos, comparada com o resto do percurso, tranquilo e em ritmo de passeio para a terceira idade).
Voltamos ao centro da cidade com o Rogério como protagonista de um episódio recambolesco: parado e de costas voltadas a quem vinha em sentido inverso, o Rogério volta-se de repente e, inadvertidamente (só pode, mas quem sou eu para o acusar ou ilibar) lançou o braço em direção aos peitos desprotegidas de uma donzela que vinha a descer a rua. “Parecia uma mola” confessou mais tarde o Rogério. “Deve ser maluco”, disse a rapariga ao passar por nós, mas sem disfarçar um olhar sorridente, vá-se lá saber porquê.
A conselho do Jorge fomos comprar brisas de Guimarães”, uma especialidade em doçaria, uma forma barata e inteligente de compensar as nossas mulheres do “inconveniente” (muito conveniente) de não terem vindo connosco.
Passamos junto a uma pitoresca ruela (uma de muitas) onde fica o Cantinho dos Cacos, sem vestígios de “cacos” de oitenta e muitos, que abundavam pelas ruas.
No Toural cruzamo-nos com um grupo de vimaranenses, todos homens (parece que Guimarães não tem mulheres, pelo menos na rua e de papo para o ar), todos com aspeto de quem está vestido para ir à missa, idades entre os 60 e 70 anos, em amena cavaqueira, de quem dispõe de todo o tempo do mundo.


Não há coincidências.
Tínhamos de regressar a casa, a tempo de assistir ao Espanha-Chile.
No mesmo dia em que o rei Juan Carlos abdicou do trono, exatamente no mesmo dia a seleção espanhola abdicou do título de campeã mundial. É caso para dizer que um azar nunca vem só. Mau agoiro para a seleção portuguesa, que acabou por se portar à altura do campeão do mundo. Em 2018 há mais.


Valadares, 18 de Junho de 2014
O secretário/cronista      
Alexandre Ribeiro      



quarta-feira, 2 de julho de 2014

O Grupo 5.com(e) em Guimarães (II)
Velhos são os cacos
A verdade é que a esta hora e nesta época os estudantes universitários, que
transformaram a noite de Guimarães numa movida a pedir meças aos grandes centros, devem estar ainda na cama, ou já regressaram às suas terras de origem após conclusão do ano escolar. E é a terceira idade, estrangeira, que dá animação à cidade. Pelo ar trata-se de gente oriunda do centro da Europa, com algum poder de compra, com preocupações culturais, procurando conhecer terras novas, em ambiente de descontração. Tratando-se de gente da classe média do centro da Europa, e tendo em conta os preços aqui praticados na hotelaria e restauração, o salário de um único dia de trabalho nos seus países de origem permite-lhes vir passar 2, 3 ou 4 dias a uma cidade como Guimarães. Ah, quem dera aos portugueses da classe média poderem fazer o mesmo em Paris, Londres ou Munique! Por aqui se vê como ainda estamos longe dessa Europa.

O Vitória
Ninguém pergunte a um vimaranense se é adepto do “Guimarães”, pois estará a confrontá-lo com um triplo insulto. Primeiro: o clube da cidade não é o “Guimarães”, é o “Vitória”, nome pronunciado com indisfarçável orgulho; segundo: é evidente que todo o vimaranense é vitoriano, isso nem se discute e aqui não há traidores, como é frequente nas grandes cidades; terceiro: ser vitoriano significa amar o clube com paixão, viver as suas atividades com enorme fervor clubístico a raiar a insanidade, que pode levar a apedrejamentos de camionetas de adeptos de clubes adversários que ousem “fazer mal” ao sei Vitória.
Ninguém duvide que o Vitória é especial. Em nenhuma outra cidade portuguesa há tal simbiose entre o clube e os seus adeptos, tal unanimidade, tal paixão e amor ao clube.

Restauração
Guimarães é uma cidade com uma muito eclética oferta gastronómica. Não havendo propriamente um prato que individualize a cidade e lhe sirva de referência, Guimarães especializou-se em fazer bem os mais conhecidos e apreciados pratos da região, dando-lhe um toque local e praticando uma gama de preços acessível a todas as bolsas.
O Rogério e o Mota vinham filados no bacalhau, num restaurante na Penha. O Jorge ainda levou o grupo ao “Histórico”, no centro histórico da cidade, um restaurante com um espaço exterior muito agradável (onde à noite costuma haver animação variada, inclusive com fados de Coimbra). Apesar da ementa convidativa e de um nível de preços que a carteira agradece, o Mota e o Rogério não embarcaram na cantiga, pois são persistentes nas suas opções e nesta matéria nunca nada os demove. 

A Penha
Não estando propriamente no programa, quando surgiu a ideia de se ir à Penha usando o teleférico houve um coro de aprovações, de onde o Mota destoou, não se sabe bem porquê. Pensamos ir comprar umas fraldas, ideia que se veio a revelar exagerada, pois o Mota acabou por se comportar muito bem.
Compramos bilhete de ida e volta, por 4,5 euros. Mas aqui se revelou que também somos um país que (às vezes) protege a terceira idade. Ser “caco” (alguns anos mais velho que um “cota”), valeu um desconto de 2,2 euros, de que beneficiaram o Mota e o Rogério.
Iniciamos a viagem na cabine 33 (ehehehe), e lá subimos o monte, de onde se desfruta uma paisagem a perder de vista, de uma beleza calma e tranquila.
Chegados ao cimo do monte sentimo-nos orgulhosos. A Penha é uma sala de visitas que nos orgulha de ser portugueses e poder proporcionar a quem nos procura esta paisagem tão diferente, num ambiente onde à beleza encantadora do local se aliam hoje interessantes opções de restauração. A informação aos turistas, lacuna grave em muitos outros locais deste país, está aqui bem colmatada por um folheto completo e elucidativo. E não escapa a possibilidade de visitar o local num trem turístico.
Para além da grandiosidade das rochas, encavalitadas umas em cima das outras por mãos gigantes, multiplicam-se os recantos, criando pequenas grutas naturais. É pena que destes locais inale um cheiro que nada tem de campestre nem floral. Provavelmente trata-se de locais discretos e eficientes para atividades ou prazeres, solitários ou não. Que o diga o Mota, que encontrou os sanitários masculinos encerrados. É pena ver esta nódoa numa sala de visitas tão linda.


(continua)