Texto

Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014


ONDE É QUE EU JÁ OUVI ISTO?

PERIGOS DE TRABALHAR DEMASIADO

O ócio estimula o cérebro a ser mais criativo e inovador. Para ter uma vida harmoniosa e feliz é preciso diminuir a carga horária de trabalho e incluir momentos de ócio na rotina.

Teoria de Domenico de Masi, sociólogo e autor de “O ócio criativo.

O lazer é vital para a saúde dos neurónios. Há conexões que só são possíveis no repouso e são cruciais para a saúde metal.

Tese afirmada a partir de estudos neurológicos efectuados por Andrew Smart, neurocientista e pesquisador da Universidade de Nova Iorque, autor do livro Auto-pilot: the At and Science of doing nothing

PALESTINA/ISRAEL

Não existe, nesta guerra, um lado “bom” ou "certo” ou “justo”. Todos se portam justamente mal. Todos matam e sacrificam civis. Israel tem um potencial bélico que o Hamas não tem. Se tivesse não hesitaria em fazer o mesmo ou pior.

Clara Ferreira Alves – Revista do Expresso

A REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL

A Comissão do Livro Branco da Reforma da Segurança Social nomeada por Guterres produziu um trabalho que parece consensual. As reformas dos portugueses são baixas, pelo que não devem ser reduzidas. Teremos, então, de aumentar as receitas, para o que, depois de excluído o aumento da TSU, foram apontadas três soluções: aumentar o ritmo do crescimento económico, criar um sistema complementar de reformas, em regime de capitalização; reduzir a despesa do estado noutros setores para que o Orçamento do Estado possa apoiar em maior medida o Orçamento da Segurança Social.

 (Onde é que eu já ouvi isto?)

Daniel Bessa – Expresso Economia

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


QUEM FOI QUE DISSE?

O PAPEL DO BCE

Há dois anos Mário Draghi anunciava que o BCE faria o que fosse preciso para resolver a crise das dívidas soberanas.

A 6 de Setembro anunciou um sistema de seguro financeiro criado pelo BCE que se comprometia a apoiar, sem limites, a liquidez dos estados nos mercados da dívida em tempo de crise.

Hoje os governos da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália conseguem colocar dívida a taxas que estão ao nível das praticadas antes da crise das dívidas soberanas.

E o mais surpreendente é que a descida das taxas de juros foi conseguida sem que o BCE tivesse de comprar um só euro de obrigações de qualquer dos Estados. Tudo o que precisou de fazer foi prometer que o faria no futuro para contrariar novos episódios de pânico.  Os mercados sossegaram e o pânico desapareceu.

Tem havido muita dor autoinfligida na zona euro, que poderia ter sido evitada se os responsáveis políticos europeus tivessem mantido a calma.

Os programas de austeridade não só levaram a muita destruição da economia, como provocaram sofrimento a milhões de pessoas. Não conseguiram, entretanto, o seu objetivo principal, que era aumentar a capacidade dos governos para servirem a dívida. Aconteceu precisamente o contrário. No início da crise Portugal tinha uma dívida pública correspondente a 90% do PIB. Hoje esse ratio aumentou para 130%. Desta forma o governo tem agora mais dificuldade em honrar a dívida.

Vai demorar anos, se não décadas para reduzir a dívida para níveis sustentáveis. Mas os mercados financeiros não querem saber. Estão de novo eufóricos. Basta um pequeno rastilho para transformar esta euforia numa nova erupção de medo e pânico.

Paul De Grauwe – professor da Universidade de Lovaina – Expresso Economia.

UMA PIPA DE MASSA

O acordo entre a Portugal e a UE que regula e define a estratégia de utilização dos fundos estruturais foi assinado. O cerimonial ficou marcado pelo sound bite do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ao dizer que estava em causa “uma pipa de massa”. Este é um termo que, no entendimento popular, está ligado a uma chuva de milhões, normalmente obtidos por sorte, sem esforço e sem mérito. Esta ideia foi acompanhada pela recomendação paternalista de que “este dinheiro deve ser bem aplicado” como para prevenir a tentação de ser levianamente estoirado.

Manuel Ferreira Leite – Expresso Economia

sexta-feira, 8 de agosto de 2014



A CRISE SERVIU DE POUCO


Aprenderam os supervisores alguma coisa com a crise que rebentou em 2007 e que arrastou para a falência bancos pelo mundo inteiro, pondo a nu as fragilidades do sistema financeiro que sustenta o ocidente e o capitalismo? Aparentemente menos o que deviam. Ao radar da supervisão continuam a escapar esquemas usados pela banca para contornar problemas e dificuldades financeiras. A história recente mostra que, em matéria de sofisticação, os banqueiros estão sempre um passo à frente dos reguladores. E para os supervisores continua a ser difícil, ou mesmo impossível, detetar veículos fictícios e manipulação de contas sem que existam denúncias.
Ana Bela Campos – Revista do Expresso


UMA NOVA LINHGEM DE BANQUEIROS


Passado o susto (depois do devastador tsunami (financeiro) que assolou o mundo a partir de 2008, os banqueiros mudaram de acusados para acusadores e passaram a criticar o despesismo público (que cresceu exponencialmente para salvar o setor financeiro e outras empresas) os gastos sociais e a produtividade dos trabalhadores.
Em Nova Iorque corre um processo contra o Barclays por operações suspeitas.
O BPN Paribas foi multado em 8,9 mil milhões de dólares (quase o dobro do capital do Novo Banco) por violar sanções internacionais.
Em Espanha a Gowex, uma empresa estrela da bolsa de Madrid, falsificava as contas há quatro anos. E os auditores, as agências de rating e os supervisores não deram por nada


Nicolau Santos – Exame de Agosto 2014


BANCO DE PORTUGAL E MINISTÉRIO PÚBLICO


O Banco de Portugal, agora tão elogiado, ainda há um ano e meio fazia comunicados a colocar o dr. Salgado acima de qualquer suspeita quando ele corrigiu, por três vezes a sua declaração fiscal por causa do tal presente de 14 milhões de euros que recebeu do construtor José Guilherme.
Sobre o BES o governador já disse tudo e o seu contrário: que estava muito bem capitalizado; que os clientes podiam estar tranquilos; que os problemas do grupo não contagiariam o banco. Depois Carlos Costa passou a admitir a eventual necessidade de o banco proceder a um novo aumento de capital, de anunciar até que havia investidores privados interessados, depois a conceder que uma parte da exposição do BES ao GES vai ter perdas, mas a acrescentar que os depósitos estão garantidos, para depois aceitar existirem algumas incertezas no caso da exposição a Angola (5,7 mil milhões de euros).
Por sua vez o Ministério Público fez um comunicado na altura em que o ex-presidente do BES foi ouvido no âmbito do processo Monte Branco a esclarecer que “face aos factos até agora apurados nos presentes autos não existem fundamentos para que o agora requerente Ricardo Salgado seja considerado suspeito”. (Agora foi o que se viu)
Nicolau Santos - Expresso Economia



quarta-feira, 6 de agosto de 2014


AINDA O BES

 “Um homem que conseguiu granjear a confiança do mercado internacional, um exemplo de liderança e de visão de quem conhece o negócio, tem as relações nacionais e internacionais certas, que delas faz a gestão sensata e zela pelo ativo mais precioso da atividade bancária: a confiança”.

João Duque na cerimónia de doutoramento honoris causa de Ricardo Salgado no verão passado no ISEG-UT

 

O prejuízo de uma das principais empresas (do GES) estava sedeada no Luxemburgo, fora do espectro da supervisão do Banco de Portugal e assim protegida do olhar de todos.

A maior fragilidade de Carlos Costa foi ter acreditado que bastava mandar para que Ricardo Salgado obedecesse. É agora claro que o ex-líder do BES não o fez e enganou o governador até ao ultimo momento.

Pedro Queirós Pereira tinha descoberto em 2012 que afinal o Mediterranean, alegado fundo do Norte da Europa que detinha 16% da Cimigest (Holding que controla a Semapa de PQP) era o próprio GES. Ficou furioso. Não perdoou a traição ao banqueiro e ao GES. (E assim nasceu a denúncia que veio terminar onde hoje se sabe)

Ana Bela Campos – Revista do Expresso

segunda-feira, 4 de agosto de 2014


INCONTORNÁVEL BES

As notícias sobre o BES chovem em catadupa. Um dia destes, em que esteja mais pachorrento, farei uma síntese.

Hoje vou limitar-me a  colocar algumas questões “ingénuas”.

1 – se o BES tinha uma “almofada” de 2,1 mil milhões de euros, onde está agora essa almofada? E serve para quê?

2 – se eu fosse um investidor com dinheiro quereria já investir fortemente num banco que nasce limpinho, que tem ativos sólidos, hnow how inquestionável, quota de mercado. Aparentemente não há razões para que os atuais donos não consigam agora dispersar o capital e, quiçá, conseguir mesmo mais-valias interessantes.

3– o Fundo de Resolução é o dono do Novo Banco. Como não tem capitais próprios suficientes vai socorrer-se do Estado Português e dos dinheiros da Troika, pagando uma taxa de juros que se diz estar entre os 8% e os 10%.  Se eu pertencesse a esta “união de bancos” quereria pagar o mais rapidamente possível ao estado português. Com o atual nível das taxas de juros não será difícil obter no mercado os necessários capitais a um “preço” muito mais em conta que o valor que terá de ser pago ao estado.

4 – alguém já comparou a atuação de Ricardo Salgado, após o 10 de Julho, a uma raposa num galinheiro. O seu instinto predador levaria a raposa a matar todas as galinhas que pudesse. Mas não deveria ser esse o “instinto de banqueiro”. Ainda se percebe (embora, obviamente, não se aceite) que nos últimos anos Ricardo Salgado tentasse esconder os buracos, tentasse empurrar os problemas com a barriga, varresse o lixo para debaixo do tapete, criasse um esquema tipo D. Branca para cobrir as necessidades de financiamento do grupo. Mas que é que o terá levado, após o 10 de Julho, após uma conversa com o governador do Banco de Portugal, a tomar um comportamento perfeitamente homicida e simultaneamente suicida, a furar as mais elementares regras de ética, a destruir definitivamente a imagem pessoal e da família? Despeito, vingança, descontrolo, cupidez? Talvez um dia se venha a saber e a perceber.

Este comportamento nada tem a ver com a tradicional imagem do banqueiro, presente ainda no imaginário coletivo. Ou será que esta é a verdadeira essência dos banqueiros atuais? Será que isto tem alguma coisa a ver com a crise de 2008?