O
FUTURO DA SEGURANÇA SOCIAL
Voltou a ser colocado
bem em cima da mesa e de forma muito acesa a discussão sobre o futuro da
segurança social no que respeita ao seu financiamento e ao valor das pensões a
atribuir aos beneficiários que, com tal objetivo, procederam aos necessários
descontos, juntamente com as respetivas entidades patronais.
O tema é-me
muito caro e sobre ele venho escrevendo desde há muitos anos, incluindo um
capítulo no meu livro “Economia em
contramão”, pelo que me dispenso de aqui proceder à análise das causas e ao
apontar de possíveis soluções, limitando-me agora a referir apenas um dado “novo” do problema.
Em minha opinião
o grande drama do nosso processo de ajustamento não foi o aumento da carga fiscal,
por muito brutal que este tenha sido. O grande drama do nosso processo de
ajustamento foi o lançamento de centenas de milhares de pessoas no desemprego e
a eliminação de milhares de empresas ditas ineficientes (na maior parte dos
casos isso era verdade) mas que desempenhavam um importantíssimo papel no
equilíbrio da nossa economia e, regra geral, prestavam serviços ou apresentavam
produtos úteis e necessários, sendo por isso um grande “amortecedor dos solavancos” que a nossa economia originava no seu
ineficiente processo evolutivo. E assim se fez recuar o nosso PIB para níveis
de há mais de uma década.
Voltando à
questão da segurança social: a reforma levada a cabo há quase dez anos pelo
ex-ministro Vieira da Silva deveria garantir a sustentabilidade da segurança
social por mais umas décadas, permitindo o equilíbrio financeiro do sistema e mantendo
a solidariedade entre gerações. Que se passou então para voltarmos hoje a um debate,
tenso, do tema, com sérios riscos de nova queda no valor das pensões e com
desagradabilíssimas guerras geracionais? O grande problema ocorrido entretanto,
o grande colapso - que deveria ter sido prevenido mas que era impensável na sua
dimensão - foi o nível atingido pelo desemprego.
Os seus efeitos são devastadores no equilíbrio das contas da segurança social,
como já tive noutras ocasiões oportunidade de analisar. Nenhuma cabeça bem
pensante iria admitir como possível, ainda há menos de uma década, que a taxa de
desemprego chegasse a rondar os 18% (em níveis oficiais, mas subindo para perto
de 30% nas contas de alguns analistas) e os dramas subsequentes iriam abater-se
sobre a nossa sociedade, provocando em simultâneo o descalabro financeiro da
segurança social e gerando lutas ideológicas intermináveis. E este problema, certamente
mais que a subida dos impostos ou a queda do nosso poder de compra, vai
prolongar os seus nefastos efeitos por muitas décadas. Mas agora que o mal está
feito não adianta chorar e ter ilusões, até porque os verdadeiros culpados pela
situação nunca serão responsabilizados. Nunca.
Voltemos agora a
atenção para um tema (só) aparentemente lateral. Um dos graves erros das
teorias liberais - que em muitos aspetos estão corretas e são teoricamente muito
atrativas - é que olham apenas numa direcção e esquecem completamente aspetos
colaterais que são importantíssimos. Ilustrarei isso com um exemplo que, não
tendo aparente ligação com o tema acima abordado, na verdade apresenta uma
umbilical ligação com o mesmo. No exemplo que vou apresentar os números que indico
não passam de uma mera ilustração para se perceber a ideia que pretendo transmitir.
Admitamos
que uma empresa sistematicamente apresenta custos anuais de 100 e recolhe
apenas receitas de 99. É óbvio que esta empresa não tem futuro. E, de acordo
com as teorias liberais, terá forçosamente de ser afastada do mercado. O grande
problema é que o fecho desta empresa leva as receitas de 99 para 0, mas as
despesas, ao nível da comunidade onde se insere, não passam de 100 para
0, mas apenas de 100 para 50. Num curto prazo (que se pode alongar por muito
tempo) as receitas caem 99 enquanto as despesas só caem 50.
Este é o grande
problema, em relação ao qual as teorias liberais assobiam para o ar. E os
resultados depois são dramáticos, mas são sistematicamente escondidos atrás de
uma cortina de fumaça.
PS –
particularmente sobre este tema eu gostaria de receber comentários dos meus
leitores.
É um tema pertinente (e actual) este que aqui hoje nos deixas.
ResponderEliminarDe facto, a sustentabilidade da segurança social é um problema que já vem do tempo de anteriores governos e governantes como o demonstras ao referires: “…a reforma levada a cabo há quase dez anos pelo ex-ministro Vieira da Silva deveria garantir a sustentabilidade da segurança social por mais umas décadas…”.
Não foi isso que aconteceu. Pelo contrário, o problema foi agravado com as más políticas do governo actual. Até para um leigo como eu nesta matéria é claro que este tema é mais político do que económico. O pormenor de que deve ser encarado e resolvido exclusivamente pelo lado da despesa demonstra bem que é uma questão politica de direita ou como tu dizes… de teoria liberal.
Quando a “nossa” ministra das Finanças (Maria Luís Albuquerque) admite voltar a cortar as pensões em pagamento dizendo que "…é honesto dizer aos portugueses que vai ser preciso fazer alguma coisa sobre as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social" esquece-se que era possível chegar "lá" de outras formas e com melhores resultados. Ela esquece também (ou faz de conta que esquece) que durante o seu governo (e outros anteriores) utilizou de forma injusta e ilegal os dinheiros do Regime Geral para pagar despesas que não deviam ser sustentadas por este regime.
Também concordo quando dizes que, e cito: “O grande drama do nosso processo de ajustamento foi o lançamento de centenas de milhares de pessoas no desemprego…”. Só acrescentaria que a evolução demográfica, a redução da natalidade e o aumento da esperança de vida também contribuem para a necessidade de políticas que se ajustem a estas novas circunstâncias para conseguirmos a sustentabilidade da segurança social. Para isso SÓ precisaríamos de outras políticas e, sobretudo, de outros políticos…
Um abraço