OS
GENES DA PREPOTÊNCIA ENRAIZADOS NO NOSSO ESTADO
Começo por
esclarecer que não confundo estado com governo. O episódio que vou relatar
pouco ou nada tem a ver com o atual governo, muito embora haja “tiques de
autoritarismo” mais salientes em determinados governos, que depois se
repercutem nas diversas instituições que são o braço armado do estado.
Estava eu na
passada segunda-feira a fazer uma sessão de quimioterapia no IPO do Porto
quando entrou no serviço um senhor em cadeira de rodas, aparentando 70 e muitos
anos. Também poderiam ser apenas 60 e poucos, mas o estado de evidente
degradação física levaria, nesse caso, a que aparentasse muitos mais.
A cadeira de
rodas era conduzida por um garboso militar graduado, que se postou ao lado do
doente desde que ele iniciou os tratamentos.
Pouco tempo
passado irrompem pela sala de tratamentos 2 soldados com camisolas azuis com gravações
nas costas a dizer “GUARDA PRISIONAL”. Ninguém ficou com dúvidas sobre o
estatuto do doente. Mas muitos se terão perguntado se tal demonstração de força
da polícia era proporcional ao perigo que o doente representava no estado de
degradação física que aparentava, e certamente com a doença grave que aportava.
Outro aspeto revoltante foi constatar que cada doente só poderia levar um
acompanhante e aquele doente levava 3. Mais ainda – entravam na sala e
movimentavam-se com o à vontade que o estatuto da autoridade lhe conferia, com
os ostensivos cassetetes presos no lado esquerdo do cinturão e uma avantajada e
moderna arma automática no coldre, no lado direito.
Mais um exemplo
de como as nossas autoridades gostam de demonstrar a sua força perante os
impotentes e indefesos. E certamente viajaram todos num carro celular com umas
minúsculas janelas gradeadas, não vá o doente ser um campeão olímpico e poder
escapar-lhes na sua veloz cadeira de rodas.
Há hábitos que
dificilmente mudarão e regras que nunca serão adaptadas às circunstâncias reais
em que os agentes de autoridade têm de atuar. Há regras que os funcionários têm de cumprir, por mais
anacrónicas que sejam e por mais inútil que seja o custo que geram.
Este acontecimento que aqui narras é mais um dos exemplos que demonstram que, por vezes, os agentes da “autoridade” ainda conservam os métodos fascistas do tempo de Salazar. Os nossos jovens não vivenciaram esses métodos e, também por isso, fizeste bem em narrá-lo. É uma forma de intervenção cívica. Todos temos a obrigação moral de contribuir para uma sociedade mais livre e democrática. Um abraço amigo
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