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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014


AS ELEIÇÕES PRIMÁRIAS NO PS

A propósito das primárias no PS vou hoje fazer uma incursão na área da análise política. Começo por uma prévia declaração de “interesses”: não me inscrevi como simpatizante e, consequentemente, nem sequer podia votar. Mas tal não invalida que, como cidadão responsável, tenha opinião e tenha acompanhado com todo o interesse o que se passou nestas primárias, que certamente vão deixar marcas na forma de fazer política em Portugal.

Ouviram-se muitos comentários sobre o rasto de divisão e possível fratura que esta campanha deixaria no PS. Eventualmente com sequelas irreparáveis, dividindo o partido a meio. Discordo em absoluto, por razões que passarei a explicar:

- a margem obtida por António Costa foi tal que não deixa grande espaço para contestação interna no curto prazo.

- o inesperado surto de inscrições, a enorme afluência às urnas e  votação maciça em Costa não podem significar outra coisa que uma forte vontade de mudança. Mesmo quem seja fiel a Seguro acaba por se vergar às razões de Costa, ao argumento de que o eleitorado socialista estava ansioso por uma mudança na liderança, independentemente das escassas diferenças que possam separar Costa de Seguro na futura ação governativa.

- os votantes em Seguro dividem-se em vários grupos. Para além dos inevitáveis arrivistas, que mudam de barricada quando o cheiro a poder se torna mais forte e sopra noutra direção, temos também os naturais fiéis aos lideres legítimos, quem quer que eles sejam. Estes, com naturalidade, passarão a dar a Costa o mesmo tipo de apoio que davam a Seguro – o espírito de tribo fala mais alto, neste caso por bons motivos. Há depois os que votaram Seguro por um questão de gratidão e solidariedade com quem os escolheu, mas sem motivos fortes para se oporem a Costa. Resta, por exclusão de partes, um pequeno núcleo de seguristas anti-costistas. Não me parece que sejam muito numerosos. E também não me parece que, perante o resultado destas primárias e tendo em conta o perfil de Seguro, este se vá entrincheirar com os seus indefetíveis, pronto a minar o terreno ao novo líder ou disposto a provocar uma secessão no partido.

Se antes das primárias Seguro tinha toda a legitimidade para liderar o partido, compreendendo-se a sua hostilidade em relação a Costa, após as primárias é Costa que assume redobrada legitimidade, quer pelo pronunciamento recente dos socialistas, quer pelo score inquestionável que atingiu nas urnas.

O PSD, que vinha rejubilando com o fraco nível os debates e com a “inevitável” fratura que surgiria dentro do PS no pós-primárias, fica agora com razões sérias para se preocupar. O PS saiu muito mais forte do que os analistas previam e a anunciada fratura seguramente não se vai verificar, pelo menos com a dimensão anunciada, com o partido dividido em duas metades. A isto devemos juntar as trapalhadas da Tecnoforma, o desastre do Citius,  a necessidade do Crato apresentar desculpas. E no campo económico as boas notícias, por mais verdadeiras que sejam, não terão seguramente grande impacto eleitoral. Não haverá diminuição do desemprego (porque demasiado ténue) nem crescimento da economia (demasiado anémico) que façam o eleitorado perdoar estes anos de austeridade, por mais necessária que ela tenha sido. É a realidade, estúpido!

Mesmo sem grandes propostas concretas para apresentar, mesmo sem grandes diferenças em relação a Seguro ou em relação às políticas seguidas por Passos, mesmo sabendo-se que a margem de manobra dentro da comunidade e nas relações com os “mercados” é escassíssima, está escrito nas estrelas quem vai ser o próximo primeiro ministro de Portugal.

sábado, 6 de setembro de 2014

Olá amigos


Por respeito para com os meus leitores devo-lhes uma explicação sobre a minha ausência do blogue.
Não há nenhuma razão de fundo para isso, mas meras razões circunstanciais que têm a ver com os problemas de saúde que enfrento, com várias assuntos pessoais que me têm tomado imenso tempo e com as naturais quebras de energia que esses problemas me consomem.
Garanto que quando tiver ultrapassado esta fase (não sei quanto tempo mais) voltareis a ver ao Alexandre Ribeiro do costume, a falar nos problemas que vos habituaste a ver abordados, com o mesmo estilo, a mesma energia e o voluntarismo de sempre.
Recomendo que quando em vez deis uma espreitadela ao blogue a ver se há novidades.


Um abraço a todos.


Alexandre Ribeiro 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014


VOLUNTARIADO VERSUS EMPREGO
Como toda a gente sabe em muitos dos nossos hospitais, nomeadamente no IPO, há um enorme grupo de voluntários que prestam apoio aos doentes que recorrem aos serviços hospitalares.
Quem se cruza com frequência com estes voluntários sabe que, regra geral, se trata de pessoas com elevados padrões de consciência social. Mas repara-se com facilidade que tratam os doentes com toda a dignidade, muita afabilidade, até com carinho, sempre com boa disposição e muita disponibilidade.
Há dias assistiu a uma cena com duas voluntárias que me sensibilizou. Não resisti a elogiar as suas atitudes e não resisti mesmo a perguntar qual era o seu "segredo" para prestarem um serviço com tal nível de qualidade e atenção ao destinatário.
"O segredo é simples: somos muitíssimo bem remuneradas para o efeito", respondeu ela com um sorriso  desarmante e cúmplice.
Fiquei completamente desarmado e rendido. E não pude deixar de contrastar com a forma como vejo algumas empresas comerciais tratar os seus clientes. E também não pude deixar de lamentar a diferença de postura entre alguns trabalhadores (não podemos generalizar) que vivem do salário que auferem e cujas atitudes estão a léguas destes(as) voluntários(as) e tanta irritação e urticária provocam nos destinatários da sua ação e tanto veneno destilam na direção de quem lhes garante o sustento.