MISSÃO EM ANGOLA (VII)
Deslocação a Benguela
Um
domingo fomos almoçar a Benguela. Benguela fica a 35 kms do Lobito. O percurso
é feito por “autoestrada”. Uma autoestrada muito especial, já que atravessa
povoações, e nessas zonas é o caos. O percurso até nem é mau e faz-se
relativamente bem. Fora das povoações é de facto muito semelhante às nossas
autoestradas, quase sempre em linha reta e sem subidas nem descidas, com um
engenhoso sistema engendrado para resolver o problema dos cruzamentos ao nível,
evitando a construção de pontes. Mas nas povoações a “autoestrada” é um enorme
perigo: existem rotundas, muitas motorizadas, passeio à face da via,
passadeiras… O pior é que aqui a passadeira para peões nunca é respeitada. A
passadeira só dá informação, mas não dá prioridade a quem quer atravessar a
estrada e …nenhum carro pára. Por isso há muitos acidentes, até porque os
peões, carregados de tralha, atravessam fora das passadeiras. O custo da viagem
é económico porque aqui o gasóleo fica a 30 cêntimos o litro e a gasolina a 45.
Benguela
é uma cidade com dimensão semelhante ao Lobito. Mas enquanto Lobito é mais
turística, com excelentes praias e muitos restaurantes, Benguela é mais cidade
do trabalho. Como cidade Benguela está bastante melhor conservada que o Lobito.
Os prédios não estão tão degradados e regra geral apresentam muito bom aspeto.
Por isso Benguela é mais cidade e, se nos esquecermos da Restinga, Benguela é melhor
que o Lobito. Mas falta-lhe a Restinga, as praias, os hotéis e os restaurantes,
que tornam o Lobito especial e um polo de atração para o turismo interno.
Fomos
almoçar a casa de um advogado português, o dr. Jorge Vieira, há muitos anos
radicado em Angola. Foram chegando pessoas, umas atrás das outras, a maior
parte para almoçar e alguns, menos, só para o café e meia de palheta. Acabamos
por nos juntar perto de trintas bicos, inclusive vários angolanos, que se vê
que têm um excelente relacionamento com estes portugueses. Apesar de
prevalecerem os homens, a hoste feminina era considerável.
Para
além do anfitrião, o advogado, estava o arquiteto Gonçalo, português de gema,
um desbocado. Dois amigos e sócios, que são os donos do Colégio de Benguela. Entre
outros estavam lá 5 professores portugueses que estão a dar aulas no Colégio, 2
rapazes e 3 raparigas, todos com menos de 30 anos, todos do norte; estava a
diretora pedagógica do Colégio, dr.ª Maria de Lurdes (Milu) que vim a saber que
tem uma irmã médica que trabalha no Centro de Saúde de Sandim (dr.ª Filomena) e
que parece que conhece a Casa dos Laceiras, quem diria?! Como o mundo é pequeno;
estava o cônsul de Portugal em Benguela; estavam os diretores do Totta e do
Millennium; estava um empresário português; um diretor da Escola Superior de
Saúde de Benguela; o diretor do Instituto Cadastral de Angola, que é um negro
retinto, da tribo dos Ovibundos, uma jóia de pessoa, sempre pronto a soltar uma
sonora gargalhada e com uma boa disposição contagiante. Todos convidados para um almoço normal de um domingo normal.
O
ambiente é aquele que se imagina: muita descontração e boa disposição. As
pessoas facilmente estabelecem um relacionamento como se já fossem conhecidas há
muito tempo. Fala-se de tudo, em grupo, de forma descontraída: de trabalho, de
negócios, de política, de diversão, de futebol, de vinhos, de mulheres…
A
casa era uma vivenda enorme e ao nível de uma boa vivenda citadina portuguesa. Cá
fora tinha um espaço relativamente grande (talvez 12 x 15 metros), cimentado
mas ladeado por coqueiros. Foi aí que comemos, debaixo de uma grande pérgola. A comida era típica de Angola, mas com muitas
reminiscências da comida portuguesa. Entre outras coisas havia feijoada, costelas,
fêveras e uma galinha deliciosa, com umas pernas compridíssimas, a lembrar os
flamingos. Havia calulo (um guisado de legumes) esparregado de folhas de
abóbora, fungi (uma espécie de papas, só de farinha e água, a que os molhos é
que dão sabor). Não faltaram bons vinhos, franceses, medalhados. No fim um
delicioso bolo, com recheio de compota. Fruta local, da época: bananas,
tangerinas, ameixas. Como digestivos, a
acompanhar o incontornável café, vieram aguardentes e cognacs. Mas sem tabaco,
que aqui praticamente ninguém fuma.
Ao
fim da tarde fomos ver o Colégio de Benguela.
(CONTINUA)