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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014


O ERRO DE CAMILO LOURENÇO E JOSÉ GOMES FERREIRA (I)

Camilo Lourenço (CL) e José Gomes Ferreira (JGF) são 2 reputados jornalistas. Ambos lançaram livros recentemente, Irresponsáveis e Carta a um bom português, respetivamente.

CL e JGF abordam a temática da dívida portuguesa, da crise e das soluções para a mesma. E embora seguindo diferentes metodologias de abordagem pode dizer-se que praticamente coincidem no diagnóstico, na terapêutica a aplicar e no prognóstico de evolução do “doente”. E nesses pontos estou bastante de acordo com eles, embora me distancie significativamente numa faceta da abordagem. Mas vamos por partes.

A origem da crise portuguesa (versão CL e JGF)

A crise portuguesa tem como primeiríssima origem o consumo excessivo do país. Desde há muitos anos (décadas) Portugal vem apresentando contas deficitárias, gastando em cada ano mais do que arrecada em receitas, deficit que não é suficientemente coberto por aumentos do produto. Este problema, estrutural, é transversal a governos de diferentes origens partidárias, que só se diferenciarão no maior ou menor laxismo com que abordaram a questão.

E a este deficit “estrutural”, que só por si iria fatalmente desembocar num abismo se não fosse arrepiado caminho, juntam-se as conhecidas ineficiências do estado e a sua captura pelos grandes lobbies, que vão da construção civil à banca, passando pela saúde, educação e energia, só para citar alguns. Poderíamos ainda acrescentar o nosso atávico atraso nas exportações, e no excessivo ênfase colocado nos serviços destinados a consumo interno, em detrimento da produção de bens transacionáveis. E não vale a pena alongar-me mais para não complicar a análise.

A solução, na versão CL e JGF

A solução passa por uma resposta à letra às questões acima colocadas. Desde logo a redução da despesa, conjugada com o aumento de impostos. É o que simplificadamente poderíamos chamar austeridade, que aparece assim como uma inevitabilidade. Deveríamos também obrigatoriamente reduzir as rendas excessivas e/ou outros benefícios de quem têm tirado proveito os sectores que capturaram o estado. O aumento de exportações não pode deixar de ser parte importante da solução, assim como a reforma do estado, onde a segurança social assume um peso relevante.

Não falo aqui na importância da regeneração da classe política e da luta contra a corrupção, tão óbvias e obrigatórias se apresentam.

Com pequenas nuances, eu não poderia estar mais de acordo com CL e JGF no diagnóstico quanto à verdadeira origem da crise e quanto à solução para dela sairmos.

Onde é que então a minha análise se distancia destes jornalistas/escritores?

(continua)


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