O ERRO DE CAMILO
LOURENÇO E JOSÉ GOMES FERREIRA (I)
Camilo
Lourenço (CL) e José Gomes Ferreira (JGF) são 2 reputados jornalistas. Ambos lançaram
livros recentemente, Irresponsáveis e
Carta a um bom português,
respetivamente.
CL
e JGF abordam a temática da dívida portuguesa, da crise e das soluções para a
mesma. E embora seguindo diferentes metodologias de abordagem pode dizer-se que
praticamente coincidem no diagnóstico, na terapêutica a aplicar e no
prognóstico de evolução do “doente”. E nesses pontos estou bastante de acordo
com eles, embora me distancie significativamente numa faceta da abordagem. Mas
vamos por partes.
A
origem da crise portuguesa (versão CL e JGF)
A
crise portuguesa tem como primeiríssima origem o consumo excessivo do país.
Desde há muitos anos (décadas) Portugal vem apresentando contas deficitárias,
gastando em cada ano mais do que arrecada em receitas, deficit que não é suficientemente
coberto por aumentos do produto. Este problema, estrutural, é transversal a governos
de diferentes origens partidárias, que só se diferenciarão no maior ou menor laxismo
com que abordaram a questão.
E
a este deficit “estrutural”, que só por si iria fatalmente desembocar num
abismo se não fosse arrepiado caminho, juntam-se as conhecidas ineficiências do
estado e a sua captura pelos grandes lobbies, que vão da construção civil à
banca, passando pela saúde, educação e energia, só para citar alguns.
Poderíamos ainda acrescentar o nosso atávico atraso nas exportações, e no
excessivo ênfase colocado nos serviços destinados a consumo interno, em
detrimento da produção de bens transacionáveis. E não vale a pena alongar-me
mais para não complicar a análise.
A
solução, na versão CL e JGF
A
solução passa por uma resposta à letra às questões acima colocadas. Desde logo
a redução da despesa, conjugada com o aumento de impostos. É o que
simplificadamente poderíamos chamar austeridade, que aparece assim como uma
inevitabilidade. Deveríamos também obrigatoriamente reduzir as rendas
excessivas e/ou outros benefícios de quem têm tirado proveito os sectores que
capturaram o estado. O aumento de exportações não pode deixar de ser parte
importante da solução, assim como a reforma do estado, onde a segurança social
assume um peso relevante.
Não
falo aqui na importância da regeneração da classe política e da luta contra a
corrupção, tão óbvias e obrigatórias se apresentam.
Com
pequenas nuances, eu não poderia estar mais de acordo com CL e JGF no diagnóstico
quanto à verdadeira origem da crise e quanto à solução para dela sairmos.
Onde
é que então a minha análise se distancia destes jornalistas/escritores?
(continua)
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