MISSÃO EM ANGOLA (XII) - FINAL
A “aventura” em Angola e a minha
participação no projeto CFB foi uma extraordinária experiência pessoal e
profissional, numa vertente que antes não havia experimentado. Ali somos pagos
exclusivamente para pensar e para colocarmos os nossos conhecimentos e
experiência ao serviço de uma empresa.
Ali sentimos que o nosso contributo é fundamental para o êxito da missão; sentimos
que a missão é importante para a regeneração da empresa. Pessoalmente aprendi
muito sobre uma atividade que desconhecia por completo; senti-me perfeitamente
integrado na equipa; conheci um país que conhecia muito mal e sobre o qual
tinha muitos preconceitos; senti que os meus saberes e a minha experiência
profissional foram úteis e reconhecidos, contribuindo para mudar coisas que
precisavam de ser feitas e que vão contribuir para os resultados da empresa e,
dessa forma, terá sido um interessante contributo para o progresso do país. A
este estado de espírito costuma-se chamar realização
profissional.
Fisicamente o que deixamos
ficar
Objetivamente deixamos ficar 2
relatórios, que no conjunto e com os anexos, são algumas centenas de páginas.
Só o relatório em que intervim diretamente foram 130 páginas, com 90 gráficos,
60 mapas e mais de 20 ilustrações. Um relatório profusamente ilustrado com
gráficos de todas as formas e feitios e uma variegada gama de cores, para
tornar as análises mais acessíveis, as conclusões mais impressivas e as
mensagens/instruções mais apelativas. Diagnóstico, análises, propostas, planos
de ações. Clarificação dos pontos fortes e dos pontos fracos da empresa.
Chamadas de atenção para as oportunidades que urge aproveitar e para as ameaças
que é preciso contornar. Planos para avançar, tarefas para executar, trabalho
de casa que agora terão de ser os angolanos a fazer com as ferramentas que lhes
entregamos e ensinamos a manejar. Os dados foram lançados e agora espera-se que
as sementes frutifiquem.
Em
jeito de despedida
Agradeço ao Morgado a oportunidade que me
deu. Agradeço ao Vicente Pereira e José Santos, com quem foi um prazer
trabalhar e com quem aprendi muito. Quero por isso aqui destacar os predicados
que mais apreciei e que, embora em graus diferentes, são comuns aos três: são
pessoas com um coeficiente de inteligência muito acima da média; todos têm uma
experiência de gestão em empresas de grande dimensão e projeção; todos têm
experiência internacional; todos têm uma elevada dose de bom senso e
sensibilidade na forma como lidam com as pessoas; todos têm uma forte
personalidade e estão habituados a tomar decisões sobre matérias complexas;
cada um, dentro da respetiva área, é um especialista.
Mas o que mais me marcou foi a humildade
destas pessoas. Pessoas habituadas a um elevado padrão de vida e a níveis de
remuneração muito acima da média; pessoas habituadas a lidar com subordinados;
pessoas que conhecem o fausto dos gabinetes dos executivos das grandes
empresas; pessoas que participam em reuniões com ministros e secretários de
estado; pessoas que conhecem as mordomias que os grandes gestores costumam
exigir. Mas afinal todos dialogam tu-cá-tu-lá com toda a gente; todos aceitam e
valorizam as opiniões contrárias; todos se alojaram num hotel humilde sem
fazerem disso qualquer problema; todos viajavam juntos, cinco pessoas no mesmo
carro, um pequeno e vulgar utilitário; todos se disponibilizaram, sem qualquer
rebuço, para dias de trabalho intenso, no hotel, ao fim de semana; todos
aceitaram trabalhar, semanas a fio, num pequeno espaço, um cubículo interior,
sem janelas e com menos de 20 metros quadrados; nenhum reclamava refeições em
restaurante fora do hotel; todos se prontificavam para os trabalhos mais simples,
como tirar cópias. A humildade foi a característica que mais me marcou no
relacionamento com estas pessoas verdadeiramente superiores.
(FIM)
Grande "aventura" vivida e contada por ti! Acompanhei aqui a tua narrativa, episódio a episódio, com grande interesse e entusiasmo. Não conheço Angola e se já tinha vontade de lá ir, depois de ler esta "Missão" a vontade é muito maior.
ResponderEliminarUm grande abraço
Um dos grandes objetivos de um cronista é precisamente colocar os leitores no teatro de operações e pô-los a "ver" o que se desenrola diante dos seus olhos. Depois... ou se gosta do cenário e do enredo ou não se gosta.
ResponderEliminarFico feliz por ver que "foste a Angola" e ficaste com vontade de lá voltar.
Um grande abraço