Texto

Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014


MISSÃO EM ANGOLA (XII) - FINAL

A “aventura” em Angola e a minha participação no projeto CFB foi uma extraordinária experiência pessoal e profissional, numa vertente que antes não havia experimentado. Ali somos pagos exclusivamente para pensar e para colocarmos os nossos conhecimentos e experiência ao serviço de uma empresa. Ali sentimos que o nosso contributo é fundamental para o êxito da missão; sentimos que a missão é importante para a regeneração da empresa. Pessoalmente aprendi muito sobre uma atividade que desconhecia por completo; senti-me perfeitamente integrado na equipa; conheci um país que conhecia muito mal e sobre o qual tinha muitos preconceitos; senti que os meus saberes e a minha experiência profissional foram úteis e reconhecidos, contribuindo para mudar coisas que precisavam de ser feitas e que vão contribuir para os resultados da empresa e, dessa forma, terá sido um interessante contributo para o progresso do país. A este estado de espírito costuma-se chamar realização profissional.

Fisicamente o que deixamos ficar

Objetivamente deixamos ficar 2 relatórios, que no conjunto e com os anexos, são algumas centenas de páginas. Só o relatório em que intervim diretamente foram 130 páginas, com 90 gráficos, 60 mapas e mais de 20 ilustrações. Um relatório profusamente ilustrado com gráficos de todas as formas e feitios e uma variegada gama de cores, para tornar as análises mais acessíveis, as conclusões mais impressivas e as mensagens/instruções mais apelativas. Diagnóstico, análises, propostas, planos de ações. Clarificação dos pontos fortes e dos pontos fracos da empresa. Chamadas de atenção para as oportunidades que urge aproveitar e para as ameaças que é preciso contornar. Planos para avançar, tarefas para executar, trabalho de casa que agora terão de ser os angolanos a fazer com as ferramentas que lhes entregamos e ensinamos a manejar. Os dados foram lançados e agora espera-se que as sementes frutifiquem.
Em jeito de despedida
Agradeço ao Morgado a oportunidade que me deu. Agradeço ao Vicente Pereira e José Santos, com quem foi um prazer trabalhar e com quem aprendi muito. Quero por isso aqui destacar os predicados que mais apreciei e que, embora em graus diferentes, são comuns aos três: são pessoas com um coeficiente de inteligência muito acima da média; todos têm uma experiência de gestão em empresas de grande dimensão e projeção; todos têm experiência internacional; todos têm uma elevada dose de bom senso e sensibilidade na forma como lidam com as pessoas; todos têm uma forte personalidade e estão habituados a tomar decisões sobre matérias complexas; cada um, dentro da respetiva área, é um especialista.
Mas o que mais me marcou foi a humildade destas pessoas. Pessoas habituadas a um elevado padrão de vida e a níveis de remuneração muito acima da média; pessoas habituadas a lidar com subordinados; pessoas que conhecem o fausto dos gabinetes dos executivos das grandes empresas; pessoas que participam em reuniões com ministros e secretários de estado; pessoas que conhecem as mordomias que os grandes gestores costumam exigir. Mas afinal todos dialogam tu-cá-tu-lá com toda a gente; todos aceitam e valorizam as opiniões contrárias; todos se alojaram num hotel humilde sem fazerem disso qualquer problema; todos viajavam juntos, cinco pessoas no mesmo carro, um pequeno e vulgar utilitário; todos se disponibilizaram, sem qualquer rebuço, para dias de trabalho intenso, no hotel, ao fim de semana; todos aceitaram trabalhar, semanas a fio, num pequeno espaço, um cubículo interior, sem janelas e com menos de 20 metros quadrados; nenhum reclamava refeições em restaurante fora do hotel; todos se prontificavam para os trabalhos mais simples, como tirar cópias. A humildade foi a característica que mais me marcou no relacionamento com estas pessoas verdadeiramente superiores.
(FIM)

2 comentários:

  1. Grande "aventura" vivida e contada por ti! Acompanhei aqui a tua narrativa, episódio a episódio, com grande interesse e entusiasmo. Não conheço Angola e se já tinha vontade de lá ir, depois de ler esta "Missão" a vontade é muito maior.
    Um grande abraço

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  2. Um dos grandes objetivos de um cronista é precisamente colocar os leitores no teatro de operações e pô-los a "ver" o que se desenrola diante dos seus olhos. Depois... ou se gosta do cenário e do enredo ou não se gosta.
    Fico feliz por ver que "foste a Angola" e ficaste com vontade de lá voltar.

    Um grande abraço

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