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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 25 de outubro de 2014


O cobrador de fraque
ou

IVA – um imposto cego e estúpido

 

A discussão do orçamento do estado é um momento privilegiado para os deputados e os cidadãos em geral refletirem sobre a forma de o estado se financiar para poder cumprir adequadamente as suas funções.

Por muito que nos custe os impostos são um dever porque traduzem uma necessidade equivalente ao ordenado para uma família. É preciso é que a forma de “sacar” dinheiro ao cidadão seja justa e equilibrada.

Sem quaisquer pretensões, mas apenas para suscitar reflexão, deixo aqui algumas cogitações, de onde antecipo desde já conclusões pouco usuais.

O IRS, com todas as imperfeições que lhe são reconhecidas, acaba por ser um imposto que traduz uma grande preocupação com a justiça retributiva que uma sociedade evoluída sempre persegue. Já o IVA pouco passa de uma forma prática e terrivelmente eficaz de encher os cofres do estado.

Usando a caricatura, que normalmente é a melhor forma de fazer perceber uma ideia ou uma mensagem, vou aqui fazer uma demonstração.

O sr. José e  sr. António são dois vizinhos, habitantes de uma pequena aldeia do interior, meia escondida e isolada do mundo. O sr. José faz trabalhos diversificados de construção civil, nomeadamente como pedreiro, trolha e afins. O sr. António trabalha igualmente na construção civil, mas voltado para as artes de carpintaria e serralharia. Ambos obtém um rendimento médio mensal da ordem dos mil euros. Ambos têm uma família a sustentar. Ambos habitam em moradias típicas de aldeia, com tudo o que é essencial mas sem ponta de luxos, pois o ordenado só lhes permite levarem uma vida decente, de cara levantada.

Num dia de forte invernia abateu-se sobre a aldeia uma tremenda tempestade que provocou sérios danos nas habitações do sr. José e do sr. António, que ficaram meias destruídas. Como trabalhavam em áreas complementares combinaram ajudar-se mutuamente a recuperar as respetivas habitações. Passaram dois meses em obras, cada um com um mês de trabalho na própria casa, na arte que dominava, e outro mês a fazer o mesmo na casa do vizinho.

É óbvio que foram dois meses em que ficaram privados da sua fonte de receitas, para além dos elevados gastos em materiais que foram obrigados a suportar.

Entretanto, massacrados com as campanhas contra a evasão fiscal e puristas do cumprimento das suas obrigações de cidadãos, entenderam que deveriam faturar um ao outro o tempo de trabalho na casa do vizinho. Assim, o sr. José faturou ao sr. António 1.000 euros respeitante aos trabalhos de trolha e pedreiro que executou na casa deste. Por sua vez o sr. António também faturou ao sr. José 1.000 euros pelos trabalhos de carpintaria e serralharia. Tudo conforme a lei, tudo limpinho.
É evidente que no mês seguinte apareceu o cobrador de fraque a cobrar 230 euros a cada um destes dois exemplares cidadãos que haviam ficado sem casa e privados de receitas durante dois meses.    



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