O cobrador de fraque
ou
IVA – um imposto cego
e estúpido
A
discussão do orçamento do estado é um momento privilegiado para os deputados e
os cidadãos em geral refletirem sobre a forma de o estado se financiar para
poder cumprir adequadamente as suas funções.
Por
muito que nos custe os impostos são um dever porque traduzem uma necessidade
equivalente ao ordenado para uma família. É preciso é que a forma de “sacar”
dinheiro ao cidadão seja justa e equilibrada.
Sem
quaisquer pretensões, mas apenas para suscitar reflexão, deixo aqui algumas
cogitações, de onde antecipo desde já conclusões pouco usuais.
O
IRS, com todas as imperfeições que lhe são reconhecidas, acaba por ser um
imposto que traduz uma grande preocupação com a justiça retributiva que uma
sociedade evoluída sempre persegue. Já o IVA pouco passa de uma forma prática e
terrivelmente eficaz de encher os cofres do estado.
Usando
a caricatura, que normalmente é a melhor forma de fazer perceber uma ideia ou
uma mensagem, vou aqui fazer uma demonstração.
O
sr. José e sr. António são dois
vizinhos, habitantes de uma pequena aldeia do interior, meia escondida e
isolada do mundo. O sr. José faz trabalhos diversificados de construção civil,
nomeadamente como pedreiro, trolha e afins. O sr. António trabalha igualmente
na construção civil, mas voltado para as artes de carpintaria e serralharia.
Ambos obtém um rendimento médio mensal da ordem dos mil euros. Ambos têm uma
família a sustentar. Ambos habitam em moradias típicas de aldeia, com tudo o
que é essencial mas sem ponta de luxos, pois o ordenado só lhes permite levarem
uma vida decente, de cara levantada.
Num
dia de forte invernia abateu-se sobre a aldeia uma tremenda tempestade que
provocou sérios danos nas habitações do sr. José e do sr. António, que ficaram meias
destruídas. Como trabalhavam em áreas complementares combinaram ajudar-se
mutuamente a recuperar as respetivas habitações. Passaram dois meses em obras, cada
um com um mês de trabalho na própria casa, na arte que dominava, e outro mês a
fazer o mesmo na casa do vizinho.
É
óbvio que foram dois meses em que ficaram privados da sua fonte de receitas,
para além dos elevados gastos em materiais que foram obrigados a suportar.
Entretanto,
massacrados com as campanhas contra a evasão fiscal e puristas do cumprimento
das suas obrigações de cidadãos, entenderam que deveriam faturar um ao outro o
tempo de trabalho na casa do vizinho. Assim, o sr. José faturou ao sr. António
1.000 euros respeitante aos trabalhos de trolha e pedreiro que executou na casa
deste. Por sua vez o sr. António também faturou ao sr. José 1.000 euros pelos
trabalhos de carpintaria e serralharia. Tudo conforme a lei, tudo limpinho.
É evidente que no mês seguinte apareceu o cobrador de
fraque a cobrar 230 euros a cada um destes dois exemplares cidadãos que haviam
ficado sem casa e privados de receitas durante dois meses.
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