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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 18 de outubro de 2014


COLIGAÇÕES

Participar em governos é uma decorrência da atividade partidária.

Passados 40 anos já seria tempo de vencer o trauma. De derrubar um muro que ignora que não há protesto consequente sem alternativa e não há alternativa sem soluções de poder. Perante os efeitos concretos desta crise as pessoas já se contentam com a promessa de resistência.

O que interessa às pessoas não é se o PS tem parceiro. É o que muda nas suas vidas. Quem se apresenta como alternativa ao voto do PS, com a real disposição de participar num governo de esquerda, tem de se distinguir do PS. Começando por uma agenda programática muito mais clara. Que, na salvaguarda do Serviço Nacional de Saúde, da escola pública e na Segurança Social, ultrapasse o mero discurso defensivo.

Todas as escolhas dependem de uma: a forma como lidar com os constrangimentos externos, a começar pela dívida e pelas metas do tratado orçamental. Na prática trata-se de saber com que dinheiro vai a esquerda cumprir a promessa de travar a austeridade e defender o estado social.

Quem se conseguir distinguir do discurso difuso e da prática temerosa do PS sobre isto tem condições para se sair bem. Mas não pode marcar tantas e tão radicais linhas vermelhas que as pessoas sintam que só se quer, mais uma vez, provar que o PS não é de esquerda.

É um caminho muito estreito. Mas para quem se contenta em picar o ponto na resistência sem alternativa, nem acha que isso se resolve com salvadores da pátria cheios de carisma, é este o caminho que sobra.

 Daniel Oliveira – Expresso de 11 de outubro

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