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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014


MISSÃO EM ANGOLA (VII)

Deslocação a Benguela

Um domingo fomos almoçar a Benguela. Benguela fica a 35 kms do Lobito. O percurso é feito por “autoestrada”. Uma autoestrada muito especial, já que atravessa povoações, e nessas zonas é o caos. O percurso até nem é mau e faz-se relativamente bem. Fora das povoações é de facto muito semelhante às nossas autoestradas, quase sempre em linha reta e sem subidas nem descidas, com um engenhoso sistema engendrado para resolver o problema dos cruzamentos ao nível, evitando a construção de pontes. Mas nas povoações a “autoestrada” é um enorme perigo: existem rotundas, muitas motorizadas, passeio à face da via, passadeiras… O pior é que aqui a passadeira para peões nunca é respeitada. A passadeira só dá informação, mas não dá prioridade a quem quer atravessar a estrada e …nenhum carro pára. Por isso há muitos acidentes, até porque os peões, carregados de tralha, atravessam fora das passadeiras. O custo da viagem é económico porque aqui o gasóleo fica a 30 cêntimos o litro e a gasolina a 45.

Benguela é uma cidade com dimensão semelhante ao Lobito. Mas enquanto Lobito é mais turística, com excelentes praias e muitos restaurantes, Benguela é mais cidade do trabalho. Como cidade Benguela está bastante melhor conservada que o Lobito. Os prédios não estão tão degradados e regra geral apresentam muito bom aspeto. Por isso Benguela é mais cidade e, se nos esquecermos da Restinga, Benguela é melhor que o Lobito. Mas falta-lhe a Restinga, as praias, os hotéis e os restaurantes, que tornam o Lobito especial e um polo de atração para o turismo interno.

Fomos almoçar a casa de um advogado português, o dr. Jorge Vieira, há muitos anos radicado em Angola. Foram chegando pessoas, umas atrás das outras, a maior parte para almoçar e alguns, menos, só para o café e meia de palheta. Acabamos por nos juntar perto de trintas bicos, inclusive vários angolanos, que se vê que têm um excelente relacionamento com estes portugueses. Apesar de prevalecerem os homens, a hoste feminina era considerável.

Para além do anfitrião, o advogado, estava o arquiteto Gonçalo, português de gema, um desbocado. Dois amigos e sócios, que são os donos do Colégio de Benguela. Entre outros estavam lá 5 professores portugueses que estão a dar aulas no Colégio, 2 rapazes e 3 raparigas, todos com menos de 30 anos, todos do norte; estava a diretora pedagógica do Colégio, dr.ª Maria de Lurdes (Milu) que vim a saber que tem uma irmã médica que trabalha no Centro de Saúde de Sandim (dr.ª Filomena) e que parece que conhece a Casa dos Laceiras, quem diria?! Como o mundo é pequeno; estava o cônsul de Portugal em Benguela; estavam os diretores do Totta e do Millennium; estava um empresário português; um diretor da Escola Superior de Saúde de Benguela; o diretor do Instituto Cadastral de Angola, que é um negro retinto, da tribo dos Ovibundos, uma jóia de pessoa, sempre pronto a soltar uma sonora gargalhada e com uma boa disposição contagiante. Todos convidados para um almoço normal de um domingo normal.

O ambiente é aquele que se imagina: muita descontração e boa disposição. As pessoas facilmente estabelecem um relacionamento como se já fossem conhecidas há muito tempo. Fala-se de tudo, em grupo, de forma descontraída: de trabalho, de negócios, de política, de diversão, de futebol, de vinhos, de mulheres…

A casa era uma vivenda enorme e ao nível de uma boa vivenda citadina portuguesa. Cá fora tinha um espaço relativamente grande (talvez 12 x 15 metros), cimentado mas ladeado por coqueiros. Foi aí que comemos, debaixo de uma grande pérgola.  A comida era típica de Angola, mas com muitas reminiscências da comida portuguesa. Entre outras coisas havia feijoada, costelas, fêveras e uma galinha deliciosa, com umas pernas compridíssimas, a lembrar os flamingos. Havia calulo (um guisado de legumes) esparregado de folhas de abóbora, fungi (uma espécie de papas, só de farinha e água, a que os molhos é que dão sabor). Não faltaram bons vinhos, franceses, medalhados. No fim um delicioso bolo, com recheio de compota. Fruta local, da época: bananas, tangerinas, ameixas.  Como digestivos, a acompanhar o incontornável café, vieram aguardentes e cognacs. Mas sem tabaco, que aqui praticamente ninguém fuma.

Ao fim da tarde fomos ver o Colégio de Benguela.

(CONTINUA)

1 comentário:

  1. Não consegues arranjar uma missão em Angola para os 5.com? É que, com a descrição que aqui vais fazendo, até apetece lá ir :-)

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