MISSÃO EM ANGOLA (V)
Lobito
Lobito, a cidade onde fiquei
instalado e onde fica a sede dos Caminhos de Ferro de Benguela, é uma “pequena” cidade tipicamente colonial,
com um dos maiores portos de África, onde se inicia/termina um longo percurso
ferroviário com mais de 1.300 kms, que se prolonga depois para o antigo Congo
belga e Zâmbia, permitindo ligações ferroviárias que chegam a Moçambique,
atravessando por isso o continente desde o Atlântico ao Índico.
Noto-lhe algumas semelhanças com
Aveiro: uma cidade plana, com alguns canais, com exploração de salinas que eram
o habitat natural de uma colónia de flamingos. A dimensão do casco urbano não
será muito dissemelhante de Aveiro, tal como os números respeitantes à
população residente. Assumiu o estatuto de cidade há precisamente 100 anos (2 de
setembro de 1913), por decreto de Norton de Matos.
Hoje a região do Lobito regista
quase um milhão de habitantes (cerca de 850 mil) e apresenta uma malha
urbana/suburbana cheia de contrastes:
- aquilo a que poderemos chamar o casco urbano da cidade foi traçado
na época de domínio português. Lobito é uma cidade bem rasgada que, no auge do
período colonial (em meados do século XX) teria excelentes estruturas para a
época. Deveria ser uma bela cidade para viver, um local aprazível, uma zona de
forte atratividade, com oportunidades de trabalho e de negócios. A construção
seguia uma cércea baixa, que obrigou a cidade espalhar-se na horizontal.
Apresenta largas e retilíneas avenidas, de um só sentido, com estacionamento
dos dois lados, sobrando ainda espaço que daria para 3 faixas de rodagem. Mas a
cidade parece que parou no tempo. O parque habitacional está em geral bastante
degradado, com vários prédios em estado lastimável, que hoje em Portugal
ninguém gostaria de habitar. Os espaços comerciais ou estão recuperados, e
apresentam nesse caso bom aspeto, ou estão encerrados e com ar de degradação. Se
se procedesse a uma “limpeza” e recuperação geral dos prédios atuais passaria a
apresentar interessantes espaços públicos, não desmerecendo das nossas cidades.
Além disso há a registar o pó (negro) que nesta época se acumula por todo o
lado, desde as árvores às casas, às ruas e aos automóveis.
- a periferia da cidade é um
desordenado e caótico conjunto habitacional sem fim à vista e que se estende
pelos morros acima, onde residem algumas centenas de milhar de pessoas, em
condições regra geral deploráveis, quer ao nível das habitações, arruamentos ou
infraestruturas necessárias a um espaço habitável com a qualidade que hoje
exigimos em Portugal. O meio de deslocação com que tropeçamos a cada passo é a
motorizada, que se vê por todo o lado às dezenas.
- uma outra zona,
interessante, resulta de construção moderna em zonas antes desertas. Aí se
concentra hoje o moderno comércio. Edifícios novos de raiz, que, pela qualidade
do edificado e pelo nível das lojas e variedade dos artigos que aí se
transacionam e pela facilidade de acessos não fariam má figura em Portugal.
- por último, a sala de visitas da cidade, uma zona com grande beleza
natural e em bom estado de conservação - a Restinga, de que voltarei a falar com mais pormenores.
(CONTINUA)
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