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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

terça-feira, 4 de novembro de 2014


EUROPEUS?

 Mais uma crónica de Henrique Raposo, publicada no Expresso de 18 de Outubro, merece aqui uma menção. Trata-se agora de falar da “malta dos Balcãs e do Leste da Europa”, onde Raposo passou uma temporada nos seus tempos de juventude.

“Foi ali que percebi que não existe Europa ou sentimento europeu. Foi ali que percebi que o choque civilizacional ocorre ao nível mais íntimo, desde os hábitos de higiene até às memórias.

As minhas memórias compunham o quadro típico do garoto que cresceu na pasmaceira do fim da história: saídas à noite, sacar miúdas, histórias de bola, filmes, livros.

Quais eram as histórias dos meus camaradas eslavos, sobretudo os balcânicos? Quase sem excepção eram veteranos de guerra ou guerrilha. Mataram, tentaram matar, quiseram matar. E as suas histórias de sexo eram diferentes das minhas – a violação foi arma de guerra na Bósnia e Kosovo.

Eram tipos decentes, mas o nevoeiro da guerra pode abrir as portas do inferno no peito mais nobre.

Aquela malta estava apenas numa pausa entre conflitos. Nas noites de copos contavam coisas que não posso contar aqui. Mesmo quando o assunto implicava a morte do inimigo a maioria não sentia remorsos. Não eram assassinos. Eram soldados.

Lembrei-me dos meus amigos quando há dias um drone com a bandeira da Grande Albânia entrou no estádio Partisan em Belgrado. Eu vi aquele filme várias vezes. Aliás, fui ator daquele filme, que vai acabar mal. A periferia do leste tem tudo para voltar ao caos”.


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