EUROPEUS?
Mais
uma crónica de Henrique Raposo, publicada no Expresso de 18 de Outubro, merece
aqui uma menção. Trata-se agora de falar da “malta dos Balcãs e do Leste da Europa”, onde Raposo passou uma
temporada nos seus tempos de juventude.
“Foi ali que percebi que não
existe Europa ou sentimento europeu. Foi ali que percebi que o choque
civilizacional ocorre ao nível mais íntimo, desde os hábitos de higiene até às
memórias.
As minhas memórias compunham o
quadro típico do garoto que cresceu na pasmaceira do fim da história: saídas à
noite, sacar miúdas, histórias de bola, filmes, livros.
Quais eram as histórias dos meus
camaradas eslavos, sobretudo os balcânicos? Quase sem excepção eram veteranos
de guerra ou guerrilha. Mataram, tentaram matar, quiseram matar. E as suas
histórias de sexo eram diferentes das minhas – a violação foi arma de guerra na
Bósnia e Kosovo.
Eram tipos decentes, mas o
nevoeiro da guerra pode abrir as portas do inferno no peito mais nobre.
Aquela malta estava apenas numa
pausa entre conflitos. Nas noites de copos contavam coisas que não posso contar
aqui. Mesmo quando o assunto implicava a morte do inimigo a maioria não sentia
remorsos. Não eram assassinos. Eram soldados.
Lembrei-me dos meus amigos quando
há dias um drone com a bandeira da Grande Albânia entrou no estádio Partisan em
Belgrado. Eu vi aquele filme várias vezes. Aliás, fui ator daquele filme, que
vai acabar mal. A periferia do leste tem tudo para voltar ao caos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário