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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014


 MISSÃO EM ANGOLA

 Em 2013 fui desafiado para desenvolver uma missão em Angola, no âmbito de um trabalho de reestruturação dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB). Esse trabalho surgiu na sequência de um decreto presidencial assinado pelo presidente José Eduardo dos Santos, que visava desenvolver as comunicações no país, adotando a via férrea como veículo preferencial e estratégico para o desenvolvimento do país e para a sua integração na região.
Não está no meu propósito fazer propriamente um relatório sobre essa missão. Mas julgo útil deixar alguns registos para memória futura e para reflexão. Daí estas “pinceladas”.
É evidente que um trabalho em pinceladas não é uma fotografia, muito menos um filme ou um álbum de fotos que exaustiva e metodicamente retrate um acontecimento. Mas também não pretendo que essas pinceladas sejam uma caricatura, pois a caricatura, por definição, distorce a realidade, o que, de maneira alguma, é meu propósito. Pretendo antes que se associem estas “pinceladas” à ideia do trabalho de um pintor que em meia dúzia de traços permite ao observador identificar o objeto pintado e perceber o contexto, mesmo estando o quadro longe de apresentar o rigor e a policromia de uma fotografia.
Em termos de resultado pretendido é uma análise completamente despretensiosa. Pretende apenas proporcionar informação aos amigos sobre esta minha “aventura africana” e, quando muito, proporcionar pontos de reflexão e enriquecimento sobre temas que são normalmente objeto de conversa de café.
Se estas pinceladas permitirem contextualizar e fundamentar uma visão (entre muitas possíveis) sobre os temas aqui apresentados terá cumprido cabalmente o seu objetivo.

 

Angola
Se habitualmente associamos os contornos geográficos de Portugal a um retângulo com 150 x 600 kms, Angola será um quase quadrado de 1.000 x 1.250 kms.  A área de Angola será qualquer coisa como 14 vezes a área de Portugal continental. E se Portugal tem 10 milhões de habitantes e Angola 20 milhões, isso significa que a densidade populacional do nosso país é cerca de 7 vezes a densidade de Angola.
Portugal é um país rico em recursos humanos e relativamente pobre em recursos minerais. Angola, ao contrário, é um país riquíssimo em produtos minerais mas com recursos humanos a apresentar notórias lacunas. Portugal é um país vocacionado para o turismo e para a prestação de serviços de elevados padrões de exigência, conhecimento ou tecnicidade, até porque tem uma assinalável vocação exportadora. Angola não tem grandes atrativos turísticos e a sua mão de obra é naturalmente desviada para trabalhos menos qualificados.
Assim, há entre Portugal e Angola inúmeros contrastes e alguma complementaridade. Portugal e Angola estão em patamares de desenvolvimento completamente diferentes. Pensando em termos globais Portugal é um país desenvolvido, com toda a carga que quisermos dar a essa expressão. Se pensarmos a nível global Portugal pertence ao clube dos ricos, embora com escassos recursos naturais. Se usarmos os mesmos critérios de análise para posicionar Angola, poderemos dizer, de forma simplificada, que este país é atrasado e pobre, embora com imensos recursos para explorar. Daí ser um país cheio de oportunidades.

(continua)

 

2 comentários:

  1. Vou gostar de (re)ler esta tua magnífica “aventura africana”. Estavas em grande forma literária. Força amigo.

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  2. Obrigado amigo Bernardino, pelo incentivo que me deste. O ser humano é como alguns carros com falhas na bateria: muitas vezes só pega de empurrão.
    Um abraço

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