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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015


O FILME DO MOMENTO

A série que no momento passa nas televisões de todo o mundo, suscitando reações epidérmicas em muitos espetadores, relata-nos uma história que, não sendo inédita, é muito peculiar. Mas para se perceber o enredo é necessário segmentar a série em várias partes.

1.ª parte

O grupo Almeida&Filhos produzia e comercializava vários tipos de cobiçados produtos. Entre eles automóveis topo de gama, que lhe custavam 50 mil euros e que colocava no mercado ao preço de 100 mil euros. E não faltavam compradores.

O sr. Grade era um campónio que ansiava por ter um desses automóveis. Mas como aceder-lhe se custavam 100 mil euros?

Não há problemas: Almeida&Filhos também tinha forma de conceder crédito para que o sr. Grade pudesse comprar o ansiado carro. Com um juro de 10%, resolvia-se o problema.

Assim, o sr. Grade adquiriu um carro que lhe custou 100 mil euros. Pagava de juros 10 mil por ano. Ao fim de 10 anos já tinha pago 100 mil euros de juros (2 vezes o custo de produção do carro) mas continuava a dever os mesmos 100 mil. Mas tinha o carro dos seus sonhos.

Por sua vez Almeida&Filhos tinha fornecido ao sr. Grade um carro que lhe tinha custado 50 mil euros; recebeu 100 mil euros só de juros e continuava a ter um crédito de 100 mil euros.

2.ª parte

Problemas diversos na sua vida pessoal e complicações inesperadas (!!!),levaram a que o Sr. Grade começasse a manifestar dificuldade em pagar os juros a que se havia comprometido. Por sua vez instalou-se a barafunda no grupo Almeida&Filhos, que começava a ter dificuldades de cobrança junto dos seus devedores, tendo tomado decisões drásticas de controlo do crédito. Resumindo: obrigou o sr. Grade a pagar o que devia, estabelecendo um prazo curtíssimo para o efeito. Mas deu-lhe uma chance de o poder fazer com toda a “comodidade”:

- apresentou ao sr. Grade a Companhia da Tralha Lda (onde Almeida&Filhos também era sócio, com uma posição de relevo) a qual abriria uma linha de financiamento de 100 mil euros

- este empréstimo deveria ser liquidado no prazo de 5 anos

- com os 100 mil euros dessa linha de financiamento o sr Grade pagava a dívida a Almeida&Filhos

O sr. Grade aceitou a proposta, mal tendo reparado que, para liquidar o empréstimo em 5 anos, teria de passar a pagar 20 mil euros por ano mais os juros, ou seja mais do dobro do que vinha pagando nos anos anteriores.

3.ª parte

Como a mudança de regime operada na 2.ª parte tinha tido por base as dificuldades económicas, o sr. Grade não conseguiu resolver o problema e passou a não ter sequer possibilidade de pagar a totalidade dos juros à Companhia da Tralha Lda. Por isso, passados alguns anos, a sua dívida era já bastante superior aos 100 mil euros iniciais. Apresenta então à Companhia da Tralha Lda um plano de pagamento que começa por uma proposta de perdão parcial da dívida, mas acaba numa simples redução dos juros e alargamento do prazo de pagamento.

A Companhia da Tralha Lda reage muito mal à proposta do sr. Grade, particularmente o seu sócio Almeida&Filhos, que se coloca numa posição irredutível e exige o cumprimento estrito do contrato, pois eles (Almeida&Filhos) não estão mais dispostos a suportar as dívidas do sr. Grade.

 

Ainda falta muito para a série chegar ao fim, pelo que se espera com expectativa pelas cenas dos próximos capítulos. Mas quem só começou a ver a série na 3.ª parte e não sabe o que se passou nos primeiros capítulos vai ter muita dificuldade em perceber o enredo.

1 comentário:

  1. Este negócio do carro que custa(va) 50000 euros e pelo qual o tal Sr. Grade (burro e português!) terá de pagar 200000 euros faz-me lembrar a dívida de Portugal (e já agora da Grécia) à Troica! A Almeida e Filhos deve ser gerida pela Srª Merkel eh eh eh
    Esta economia é "areia demais para a minha camioneta"! Aguardo as cenas dos próximos capítulos :-)

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