A
LISTA VIP E O DESPRESTÍGIO DAS INSTITUIÇÕES
O tema polémico
da semana tem sido a lista de contribuintes VIP. O tema merece-me alguns
comentários.
Ponto 1 – O poder dos burocratas
Todos sabemos
que o fisco hoje é uma máquina trituradora dos cidadãos, que estão
desprotegidos face ao poder discricionário da máquina fiscal. Mas o problema não
acaba aqui. Às vezes é precisamente aqui que o problema começa. O cidadão com
acesso a informação privilegiada é alguém que detém uma importante fonte de poder.
Não se podendo fazer generalizações, que seriam injustas e abusivas, sabemos
que há trabalhadores do estado que “sabem e costumam usar” o seu acesso ao conhecimento
de assuntos reservados ou confidenciais, utilizando-o para fins absolutamente
ilícitos. Desde a simples coscuvilhice, até à demonstração e ostentação do
poder “de quem sabe”, passando pelo exercício de vingança ou obtenção de
benefícios através da negociação da informação com meios de comunicação social
ou outros. Hoje o cidadão é um joguete nas mãos de meros burocratas que detém o
privilégio de acesso a informação confidencial.
O estado
democrático precisa de pôr cobro a estes desmandos.
Ponto 2 – O interesse das listas de contribuintes
VIP’s
Em minha opinião
a existência de listas de contribuintes VIP peca, basicamente, pela
discriminação dos contribuintes em contribuintes de primeira e contribuintes de
segunda, pois todos terão direito a que a sua situação não seja vasculhada por
um qualquer burocrata com fins inconfessáveis. Mas não sejamos ingénuos nem
demagogos e atentemos numa coisa: todos os cidadãos devem ser tratados por
igual, mas este princípio não invalida, antes é confirmado, pela necessidade de
tratar de forma desigual o que é desigual. Todos achamos impossível que o
estado possa pôr um guarda-costas a cuidar da segurança de cada cidadão. Mas
todos achamos correto que o presidente da república, o primeiro ministro e
outras figuras do estado sejam protegidos por guarda-costas, nomeadamente em determinados
atos públicos com acrescido risco, sob pena de assistirmos, nos dias de terror
que hoje se vivem, a atos de vandalismo, assassinatos ou outros crimes bárbaros.
O exercício de determinadas funções e a responsabilidade e o risco inerentes determinam
que nessas circunstâncias se tomem medidas especiais.
Algo de semelhante
se poderá considerar em relações a especiais precauções a tomar no que respeita
à reserva de acesso a informação em matéria fiscal. Com algumas ressalvas: o
cidadão comum tem igualmente o direito de ser protegido, não são só os VIP’s; o
problema não pode ser resolvido através de simples listas nominais, eventualmente
elaboradas por meros funcionários, mesmo que do topo da hierarquia, devendo
antes obedecer a critérios discutidos e aprovados por órgãos com legitimidade
democrática.
Ponto 3 – As trapalhices do governo
Passos Coelho (aliás,
na esteira de Sócrates, de quem é, nesse domínio, um diligente discípulo) já
nos habituou às suas trapalhices na abordagem de temas incómodos. Num primeiro
momento começa por negar com todos os dentes todas as notícias que o possam
beliscar a si próprio ou ao governo a que preside, procurando escapar por entre
os pingos da chuva e esperando que passe o vendaval. Num segundo momento, quando
as evidências são indisfarçáveis e surgem as provas, aparece então com
explicações esfarrapadas que só convencem os tansos e põe os seus apaniguados a
fazer figura de parvos. Vêm depois os pedidos de desculpa que, se foram aceites
com condescendência numa fase inicial, começam já a soar completamente a falso,
mesmo que sejam sentidos, fazendo lembrar a história do aí vem lobo. Ao fim de algum tempo já ninguém acredita nos gritos
de socorro mesmo quando o lobo desce ao povoado.
Ponto 4 – Parece que ninguém aprendeu nada
Morais Sarmento
terá sido porventura o primeiro e único político a tomar a atitude séria e inteligente
de informar os portugueses sobre erros que terá cometido na vertigem da
juventude.
Os portugueses
apreciaram o gesto e hoje respeitam o político e o comentador, ignorando o seu
passado pouco recomendável nos meandros da toxicodependência.
Os portugueses
sabem compreender e perdoar os erros, distinguindo bem a seriedade e a frontalidade
das trapalhices e do chico-espertismo.
Ora aqui está um post pertinente e actual. Concordo inteiramente com os teus 4 pontos de vista! Parabéns, amigo. Gostei.
ResponderEliminarMas, já agora, deixa-me aqui desabafar um pouquinho. Sem entrar muito em questões técnicas (essas já foram abordados por ti) deixo estas questões (retóricas) que me "assaltam" a mente:
- Será que ouvi mal ou o secretário de Estado, a ministra das Finanças e o próprio Passos Coelho – tinham negado (categoricamente) ainda há bem pouco tempo a existência de uma lista VIP?
- Se tivessem vergonha na cara (e perante essas mentiras) não teriam a necessidade de pedir imediatamente a sua demissão?
- Será que basta ao líder do PS – António Costa – dizer que: “esta lista VIP foi criada na sequência de vários processos disciplinares levantados a funcionários do fisco quando se questionava o cumprimento pelo primeiro-ministro das suas obrigações”? Se fosse um verdadeiro líder da oposição não teria que tomar uma atitude mais dura e (no mínimo) pedir a demissão do primeiro-ministro?
Para terminar acrescento que considero este episódio a “cara” deste governo. Faz-me lembrar o tempo da “outra senhora” e da famosa PIDE. Uma vergonha! Uma desgraça!
Um abraço