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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 23 de março de 2015


O FUTEBOL TAMBÉM FAZ PARTE DA VIDA

O óbvio, o objetivo, o subjetivo e o estado anímico

O campeonato nacional de futebol está ao rubro agora que passou a haver duas equipas que estão dependentes de si próprias para poderem conseguir o almejado título de campeão nacional, o que não acontecia antes do início desta última jornada. Contudo, os “analistas” podem extrair dos resultados deste fim de semana conclusões muito díspares.

Era comummente aceite entre os comentadores, mesmo os mais ferrenhos adeptos do F. C. Porto, que se os portistas perdessem pontos para o Benfica o campeonato ficava já com o destino traçado. Pois nesta jornada o F. C. Porto perdeu pontos e mesmo assim não só não delapidou a hipótese de ser campeão como se aproximou do Benfica e ganhou o direito de depender de si próprio, sem precisar da ajuda de terceiros. Isto é objetivo, seja qual for o ângulo de análise.

Agora dirão uns que o Porto ganhou um ponto ao Benfica, que pode ser precioso para a atribuição do título. Outros dirão que desperdiçou 2 pontos que chegaram a estar ao seu alcance e que muita falta lhe poderá fazer nas contas finais. Duas verdades que têm muito que se lhe diga e que levam os otimistas e os pessimistas de um e outro clube a fazer análises contraditórias.

À partida para esta jornada quase todos previam que se iria cumprir calendário, mantendo os dois rivais a mesma diferença pontual, ficando a faltar menos um jogo para o final do campeonato. Mas a verdade é que o Porto conseguiu duas importantes vantagens: ganhou o direito a dizer que passou a depender de si próprio para poder ser campeão e ganhou um ponto que pode ser preciosíssimo e que pode levar o campeonato a ser disputado até ao último segundo, não sendo de descartar a hipótese de ser decidido por um qualquer golo nos minutos finais. Mas não é menos verdade que depois do intervalo do jogo na Madeira o Benfica ganhou 2 preciosos pontos, a eles se juntando a vantagem de poder perder o jogo da Luz com o seu rival e mesmo assim poder festejar o título se a derrota for por menos de 3 golos de diferença. Não é coisa pouca.

Como se vê, ambas as equipas podem gritar vitória na jornada, dependendo do ângulo de análise e, obviamente, do que acontecer daqui em diante e da forma como as equipas reajam a uma situação que alterou, e muito, o estado anímico de cada uma.

Até aqui tudo é simples e óbvio. Mas vejamos agora como é que podem então reagir animicamente as duas equipas:

- o Porto pode galvanizar-se por ter passado a depender de si próprio

- o Benfica pode cair em depressão porque perdeu terreno e deixou que o adversário deixasse de depender de terceiros

- mas também pode acontecer o contrário: o Porto pode ter ficado atordoado por ter deixado fugir 2 pontos e a oportunidade de poder ser campeão com um simples golo na Luz no último minuto

Mas analisemos a “evolução” do estado de espírito das 2 equipas num espaço de poucas horas:

- o Benfica, logo no início do jogo em Vila do Conde, entrou em euforia e já via uma larga e plana avenida à sua frente, com as faixas de campeão a reluzir ao fundo.

- no final do jogo o Benfica tinha caído na fossa e não lhe saía da mente a imagem de Jesus ajoelhado depois do golo de Kelvin há 2 anos no Dragão.

- ao intervalo do jogo da Madeira os portistas estavam entusiasmados e já sonhavam com a repetição de um cenário de sonho que conheceram em tempos recentes

- no final do jogo da Madeira os portistas perguntavam a si próprios como era possível o que estava a acontecer. E se o golo do Nacional tivesse sido no último minuto do jogo o Lopetegui poderia ter “ajoelhado”

Mas vamos admitir que se tinha invertido a ordem dos jogos e o primeiro tinha sido o da Madeira e só depois o de Vila do Conde. No final do jogo da Madeira os portistas teriam caído no inferno, e ninguém das suas hostes acreditaria que o Porto ainda poderia recuperar o título. E a euforia dos benfiquistas não teria tido limites, estralejando foguetes logo nos primeiros minutos do jogo de Vila do Conde, depois do golo madrugador de Salvio. Todavia, no final do jogo Jesus voltaria a ajoelhar e os portistas festejariam como se o título já estivesse no bolso.

Ironia e sortilégio do futebol que, “não passando de uns chutos dados numa bola”, tem destas coisas bonitas e profundamente humanas de mergulhar no que há de mais sensível no âmago da alma humana.


1 comentário:

  1. Sem dúvida que o futebol também faz parte da vida. Mas... se nos abstrairmos da parte subjectiva da tua análise e se nos centrarmos apenas na parte objectiva chegamos à conclusão de que se joga muito mau futebol em Portugal. Quando por SMS, e na antevisão dos jogos deste fim-de-semana, te “provoquei” na brincadeira com o velho ditado: O que é NACIONAL é BOM”! Tu respondeste-me de pronto: “E eu espero que os de Vila do Conde sejam reis em sua casa e que o Nacional se enterre na Madeira”! Parece que já prevíamos algo do que viria a acontecer... Um abraço

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