NINGUÉM
FOGE À MORTE NEM AO PAGAMENTO DE IMPOSTOS (???!!!)
Costuma
dizer-se que na vida só há duas certezas incontornáveis: morrer e pagar
impostos. Quanto à primeira “verdade”, não restam dúvidas. Já quanto à segunda
tenho muitas e fundadas reservas. É verdade que cada vez se consegue fugir
menos aos impostos e mesmo os chico-espertos são frequentemente apanhados na
curva. Mas os verdadeiros especialistas continuam a cantar de galo e invariavelmente
ganham ao fisco no jogo do gato e do rato. Como nos desenhos animados o gato (o
fisco) faz o papel de lorpa, que não consegue nunca apanhar o finório ratinho.
Mas
hoje queria falar da outra certeza: a morte. Mas fá-lo-ei de forma ligeira,
através da recriação de um conto que me ficou de memória da juventude, e que
li na chamada “Selecta”, livro de leitura obrigatória no secundário. A história
passava-se no médio oriente, num ambiente das mil e uma noites.
Vou
recriar a história na atualidade, situando-a em Portugal.
O Maia era o
patriarca de uma família cigana, na casa dos 60 anos, que vendia todo o tipo de
artigos de vestuário na feira de Espinho. Naquela segunda-feira tinha deixado a
barraca entregue a familiares e tinha-se deslocado a Guimarães atrás de um
excelente negócio numa fábrica de confeções que tinha necessidade urgente de
resolver alguns problemas de tesouraria.
Nesse mesmo dia,
logo pela manhã, a morte
apresentou-se ostensivamente na feira e não se coibia de anunciar a todos por
quem passava, ao que ia: fazer a ceifa do dia, daqueles que constavam da sua
lista para aquela zona. Visitou também a barraca da família Maia e o seu ar
sinistro não deixava dúvidas sobre os seus propósitos.
- “Vai-te
embora, desgraçada. Não te queremos por aqui”
- “Ah,
ah, ah!!!” - riu a morte, com um frio cinismo e um brilho
de prazer no olhar. “Vou dar uma volta
pelas redondezas e volto antes do final do dia. O vosso patriarca que espere por mim, pois tenho uns assuntos a tratar com ele”.
E abalou para o
trabalho, que incluía levar uma data de acamados, provocar alguns AVC’s fatais
e mandar para os anjinhos uns tantos doentes crónicos.
A família cigana
de pronto ligou ao patriarca Maia a avisá-lo da visita da morte e do perigo
iminente que corria, aconselhando-o a que não voltasse nesse dia a Espinho e se afastasse para
o mais longe possível.
O Maia, que ao
longo da vida até já tinha sido um aliado da morte, entregando-lhe algumas
vítimas, sabia bem o real perigo que enfrentava. Mal fechou o negócio na fábrica, já
com o seu velho mas potente BMW atulhado de mercadoria, resolve fugir na
direção da fronteira de Espanha, esperando chegar depressa ao outro lado, para
melhor poder fugir da terrível ameaça que pairava sobre a sua cabeça.
Entretanto, a
morte, cumprido o essencial da sua missão, a meio da tarde volta à feira de
Espinho, à barraca da família Maia, que a recebe de facas afiadas, vociferando ameaças caso acontecesse algo ao seu patriarca. Mas a
morte não se deixou minimamente intimidar. Com ar gélido e sinistro limitou-se
a anunciar que não podia ficar com eles mais tempo. Tinha de partir de imediato
para uma missão bastante longe dali, pelo que não tinha mais tempo a perder com a família.
- “Adeus, até á próxima”
E abalou lesta, deixando
no ar o som sinistro de uma risada trocista.
No dia seguinte
um jornal diário anunciava: Ontem, cerca das 18
horas, perto da fronteira de Quintanilha, um automóvel despistou-se, galgando o
rail de proteção e precipitando-se numa ravina de 20 metros. O acidente terá
como causas prováveis o excesso de carga e velocidade acima dos valores
permitidos por lei, a que poderá estar associada alguma falha nos travões da
viatura, já com muito anos e deficiente manutenção. O automóvel era conduzido
por um feirante de Espinho, de etnia cigana, que teve morte imediata.
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