AUSTERIDADE
O excesso de austeridade está para a
austeridade como passar fome está para uma dieta rigorosa, mas saudável e
equilibrada.
Não é este o momento para abordar
aqui a magna questão das responsabilidades e das culpas do que se passa em
Portugal. É ainda e apenas o momento de reflexão sobre a doença e a dose do
remédio que nos há-de curar.
Vamos admitir que não tinha havido
crise em 2008, com todas as consequências - económicas, sociais e políticas, a nível
interno e no mundo em geral – que são sobejamente conhecidas e que trouxeram
até nós (e outros países) a troika e a austeridade. Não esquecendo os nossos
erros e fragilidades, nem os omitindo na análise, façamos mesmo assim algumas
projecções do que teria sido, em condições ”normais”,
a evolução da economia portuguesa nestes últimos 6 anos:
- o nosso PIB poderia estar 10 a 20 mil milhões de euros acima do atual
- o rendimento disponível dos cidadãos poderia estar 5% a 8% acima do
atual
- as receitas do IVA + IRS poderiam estar 8 a 12 mil milhões de euros
acima do atual patamar
- provavelmente teríamos poupado, nestes 6 anos, entre 6 e 10 mil milhões
de euros em juros
- a nossa dívida provavelmente teria crescido para 90% ou 95% do PIB, mas
não para os 130% atuais, podendo estar mais de 50 mil milhões de euros abaixo
do valor atual
- O desemprego até poderia ter subido para os 9% ou 10%, mas nunca para
os mais de 16% onde já estivemos.
- muitas das nossas empresas “coxas” continuariam a arrastar-se, mas não
teriam fechado portas. E algumas das empresas saudáveis que faliram
continuariam a produzir riqueza e a dar emprego.
Obviamente que continuaríamos com os
nossos problemas estruturais por resolver. Provavelmente continuaríamos sem
perceber nem aceitar de bom grado que tínhamos de arrepiar caminho. Mas
certamente, e se pudéssemos dispor de um governo de verdadeiros estadistas, não
precisaríamos de mais 40 anos de definhamento e “perda de independência” antes de poder voltar a erguer a cabeça.
A dieta saudável e rigorosa é uma questão de bom senso e um imperativo
para quem quer levar uma vida saudável. E uns dias de jejum e abstinência são
muito saudáveis e só farão mal aos doentes. Mas a fome continuada é o caminho
mais rápido para a degradação física, para o abrir de portas a todas as doenças
associadas à falta de vitaminas, tornando o nosso organismo permeável a todas
as infecções oportunistas que não podem ser prevenidas por um sistema
imunitário deficitário. É o caminho mais rápido para a degradação física e para
a perda (inútil e sem sentido) da qualidade de vida.
Mais que uma forma de ajustamento, não será a austeridade uma forma de castigo para os que necessitam de ajuda externa? No nosso caso, a terceira vez em apenas 35 anos.
ResponderEliminarOlá Lúcio. Não só me parece que a austeridade "excessiva" é uma forma de castigo como acho que é particularmente injusta em relação a extratos da população mais desfavorecidos.
EliminarÉ sempre gratificante para um bloquista receber comentários. São sempre bem vindos.