Texto

Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 22 de março de 2014


AUSTERIDADE

 

O excesso de austeridade está para a austeridade como passar fome está para uma dieta rigorosa, mas saudável e equilibrada.

 

Não é este o momento para abordar aqui a magna questão das responsabilidades e das culpas do que se passa em Portugal. É ainda e apenas o momento de reflexão sobre a doença e a dose do remédio que nos há-de curar.

Vamos admitir que não tinha havido crise em 2008, com todas as consequências - económicas, sociais e políticas, a nível interno e no mundo em geral – que são sobejamente conhecidas e que trouxeram até nós (e outros países) a troika e a austeridade. Não esquecendo os nossos erros e fragilidades, nem os omitindo na análise, façamos mesmo assim algumas projecções do que teria sido, em condições ”normais”, a evolução da economia portuguesa nestes últimos 6 anos:

- o nosso PIB poderia estar 10 a 20 mil milhões de euros acima do atual

- o rendimento disponível dos cidadãos poderia estar 5% a 8% acima do atual

- as receitas do IVA + IRS poderiam estar 8 a 12 mil milhões de euros acima do atual patamar

- provavelmente teríamos poupado, nestes 6 anos, entre 6 e 10 mil milhões de euros em juros

- a nossa dívida provavelmente teria crescido para 90% ou 95% do PIB, mas não para os 130% atuais, podendo estar mais de 50 mil milhões de euros abaixo do valor atual

- O desemprego até poderia ter subido para os 9% ou 10%, mas nunca para os mais de 16% onde já estivemos.

- muitas das nossas empresas “coxas” continuariam a arrastar-se, mas não teriam fechado portas. E algumas das empresas saudáveis que faliram continuariam a produzir riqueza e a dar emprego.

 

Obviamente que continuaríamos com os nossos problemas estruturais por resolver. Provavelmente continuaríamos sem perceber nem aceitar de bom grado que tínhamos de arrepiar caminho. Mas certamente, e se pudéssemos dispor de um governo de verdadeiros estadistas, não precisaríamos de mais 40 anos de definhamento e “perda de independência” antes de poder voltar a erguer a cabeça.

 

A dieta saudável e rigorosa é uma questão de bom senso e um imperativo para quem quer levar uma vida saudável. E uns dias de jejum e abstinência são muito saudáveis e só farão mal aos doentes. Mas a fome continuada é o caminho mais rápido para a degradação física, para o abrir de portas a todas as doenças associadas à falta de vitaminas, tornando o nosso organismo permeável a todas as infecções oportunistas que não podem ser prevenidas por um sistema imunitário deficitário. É o caminho mais rápido para a degradação física e para a perda (inútil e sem sentido) da qualidade de vida.

 

2 comentários:

  1. Mais que uma forma de ajustamento, não será a austeridade uma forma de castigo para os que necessitam de ajuda externa? No nosso caso, a terceira vez em apenas 35 anos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Lúcio. Não só me parece que a austeridade "excessiva" é uma forma de castigo como acho que é particularmente injusta em relação a extratos da população mais desfavorecidos.
      É sempre gratificante para um bloquista receber comentários. São sempre bem vindos.

      Eliminar