Texto

Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quinta-feira, 27 de março de 2014


EM CONTRAMÃO

É chegado o momento de clarificar um pouco melhor o sentido que dou à expressão “Em contramão”, que serve de título a este blogue. Nada melhor para esse efeito que usar uma metáfora.                            
Em Contramão” é como conduzir no meio de um bosque, numa noite escura, levando uma lanterna de bolso para ver melhor o caminho. Os faróis do carro só nos apontam numa direção: para a frente. Mas se levarmos uma lanterna podemos apontar para fora do caminho. A razão do uso da lanterna não é focar a estrada, pois para isso há os faróis. O objetivo é poder apontar para coisas e locais onde a luz dos faróis naturalmente não incide.
Por isso, “Em contramão” não é necessariamente “do contra”; é muito mais o apontar o foco para ângulos menos visíveis; é dar visibilidade ao lado lunar; é dar voz e argumentos a quem pouco pesa; é exercer o contraditório. Em contramão colocam-se muitos “ses” em situações onde há quem só veja certezas. É estar atento ao que se passa ao lado, em vez de só olhar em frente. Em contramão perspetivam-se alternativas e assinalam-se obstáculos num caminho que se desejaria, naturalmente, que fosse isento de perigos. Por tudo isto “Em contramão” é um espaço de diálogo, sempre aberto e sempre à espera de contributos dos seguidores.
Quando publico uma frase ou um comentário de alguém (que procuro, sempre que possível, identificar e situar), haverá uma natural tendência para concordar. Mas não é obrigatoriamente assim. A publicação significa que estamos perante um pensamento, um ponto de vista, um ângulo de análise que entendo que não deve ser ignorado.
A vida não é a preto e branco e tem, felizmente, muitos matizes. Não ver (ou não querer ver) essas nuances é redutor e pode revelar miopia ou daltonismo. E isso é sempre um perigo na “estrada”.
Temos de escolher os destinos para onde queremos ir. Temos de escolher os caminhos para lá chegar. E mesmo no caminho que estamos a seguir, seja ou não o que escolhemos, temos de contornar os buracos que formos encontrando, fugir das armadilhas de traçados mal projetados e estar atentos aos sinais de perigo, nem sempre perfeitamente visíveis, que vamos encontrando ao longo do percurso.
 

3 comentários:

  1. Citando um grande escritor português (que eu até nem gosto muito de ler - por defeito meu, só pode!) que foi José Saramago, quando escreveu no seu livro “Ensaio Sobre a Cegueira”, ele diz : “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
    É o que tu pareces fazer no dia-a-dia e te propões (pelo que vejo) fazer aqui neste teu blogue.
    Compreendo assim o sentido da expressão “Em Contramão”! “Vejo” a tua intenção permanente de apontares o “foco” para pormenores que muitos de nós não repara, mesmo estando lá no mesmo sítio que tu. Não é por acaso que nas crónicas que escreves das nossas viagens turísticas/gastronómicas vais buscar e registar de forma “fotográfica” aspectos, factos e acontecimentos que nenhum dos outros quatro conseguiu “ver”. Provavelmente porque apontas o teu “foco” para uma direcção diferente do nosso olhar, ou da nossa “lanterna”.
    Isso demonstra que em muitos momentos agimos como se fossemos cegos para não vermos o mundo que não queremos ver… e que é tão belo.
    Acredito que o teu “Em Contramão” nos vem ajudar a abrir os olhos para continuarmos a escolher os melhores caminhos. Se estivesse aqui o Mota provavelmente diria: “sim, sim, o melhor caminho para o Restaurante “x”, onde se come muito bem e a um bom preço! Quando vamos lá?”

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    1. Obrigado amigo Bernardino. O teu comentário vem dar uma preciosa ajuda na interpretação do meu texto.
      Fico feliz quando vejo as pessoas a admirar, a desfrutar ou a refletir sobre os temas, objetos ou paisagens para onde aponto o meu foco.

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    2. Nós é que temos de agradecer a partilha que fazes da tua argúcia! Reparei também que vais fazendo, paulatinamente, "reformas estruturais" ao teu blogue.
      O governo promete, promete mas... tu é que as fazes :-)

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