EM CONTRAMÃO
É chegado o
momento de clarificar um pouco melhor o sentido que dou à expressão “Em
contramão”, que serve de título a este blogue. Nada melhor para esse
efeito que usar uma metáfora.
“Em Contramão” é como
conduzir no meio de um bosque, numa noite escura, levando uma lanterna de bolso
para ver melhor o caminho. Os faróis do carro só nos apontam numa direção:
para a frente. Mas se levarmos uma lanterna podemos apontar para fora do
caminho. A razão do uso da lanterna não é focar a estrada, pois para isso há os
faróis. O objetivo é poder apontar para coisas e locais onde a luz dos faróis naturalmente
não incide.
Por isso, “Em
contramão” não é necessariamente “do
contra”; é muito mais o apontar o foco para ângulos menos visíveis; é dar
visibilidade ao lado lunar; é dar voz e argumentos a quem pouco pesa; é exercer
o contraditório. Em contramão colocam-se muitos “ses” em situações onde há
quem só veja certezas. É estar atento ao que se passa ao lado, em vez de só
olhar em frente. Em contramão perspetivam-se alternativas e assinalam-se
obstáculos num caminho que se desejaria, naturalmente, que fosse isento de
perigos. Por tudo isto “Em contramão” é um espaço de
diálogo, sempre aberto e sempre à espera de contributos dos seguidores.
Quando publico
uma frase ou um comentário de alguém (que procuro, sempre que possível,
identificar e situar), haverá uma natural tendência para concordar. Mas não é obrigatoriamente
assim. A publicação significa que estamos perante um pensamento, um ponto de
vista, um ângulo de análise que entendo que não deve ser ignorado.
A vida não é a
preto e branco e tem, felizmente, muitos matizes. Não ver (ou não querer ver)
essas nuances é redutor e pode revelar miopia ou daltonismo. E isso é sempre um
perigo na “estrada”.
Temos de
escolher os destinos para onde queremos ir. Temos de escolher os caminhos para
lá chegar. E mesmo no caminho que estamos a seguir, seja ou não o que escolhemos,
temos de contornar os buracos que formos encontrando, fugir das armadilhas de
traçados mal projetados e estar atentos aos sinais de perigo, nem sempre
perfeitamente visíveis, que vamos encontrando ao longo do percurso.
Citando um grande escritor português (que eu até nem gosto muito de ler - por defeito meu, só pode!) que foi José Saramago, quando escreveu no seu livro “Ensaio Sobre a Cegueira”, ele diz : “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
ResponderEliminarÉ o que tu pareces fazer no dia-a-dia e te propões (pelo que vejo) fazer aqui neste teu blogue.
Compreendo assim o sentido da expressão “Em Contramão”! “Vejo” a tua intenção permanente de apontares o “foco” para pormenores que muitos de nós não repara, mesmo estando lá no mesmo sítio que tu. Não é por acaso que nas crónicas que escreves das nossas viagens turísticas/gastronómicas vais buscar e registar de forma “fotográfica” aspectos, factos e acontecimentos que nenhum dos outros quatro conseguiu “ver”. Provavelmente porque apontas o teu “foco” para uma direcção diferente do nosso olhar, ou da nossa “lanterna”.
Isso demonstra que em muitos momentos agimos como se fossemos cegos para não vermos o mundo que não queremos ver… e que é tão belo.
Acredito que o teu “Em Contramão” nos vem ajudar a abrir os olhos para continuarmos a escolher os melhores caminhos. Se estivesse aqui o Mota provavelmente diria: “sim, sim, o melhor caminho para o Restaurante “x”, onde se come muito bem e a um bom preço! Quando vamos lá?”
Obrigado amigo Bernardino. O teu comentário vem dar uma preciosa ajuda na interpretação do meu texto.
EliminarFico feliz quando vejo as pessoas a admirar, a desfrutar ou a refletir sobre os temas, objetos ou paisagens para onde aponto o meu foco.
Nós é que temos de agradecer a partilha que fazes da tua argúcia! Reparei também que vais fazendo, paulatinamente, "reformas estruturais" ao teu blogue.
EliminarO governo promete, promete mas... tu é que as fazes :-)