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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Grupo 5.com(e) em Guimarães (III)

Não se percebe de onde vem o “dan”. Será que o proprietário praticou judo? Não são propriamente essas as artes que pratica quem vem a este “santuário”, onde o bacalhau é rei. É que a ementa apresenta nada menos que seis formas de preparar o que em tempos era apelidado de prato dos pobres e hoje é iguaria de ricos.
Com o Mota a salivar, mandamos vir 4 doses de bacalhau à Zé do Pipo, tendo o Bernardino optado por carne, que
considerou excelente. O fiel amigo estava com a salga no ponto e o sabor a despertar cócegas no palato. Só pecava pela dimensão das doses que, de tão generosas, permitiriam poupar uma dose em 4, sem qualquer prejuízo para comensais normais. Mas comeu-se tudo, pois, como diz um amigo meu, é preferível fazer mal do que deixar para o gato.
Nos aperitivos tínhamos prescindido de alheira com grelos, reduzindo a degustação às vulgares azeitonas e presunto. Nos vinhos deu-se preferência ao verde da casa, da Quinta Donegas, com o Jorge a permanecer fiel à água. Com tanta fidelidade ainda vai acabar a trabalhar para uma companhia de seguros. Nas sobremesas a opção maioritária foi para o pudim, que dizem que estava excelente, pois eu optei por uma laranja descascada, para desfazer o sabor do azeite.
A conta não ofereceu surpresas: 24 euros por cabeça, com 4 a pagar a refeição de 5.


Motoqueiros brasileiros
A sala estava muito composta, praticamente cheia. Tudo “cotas” e “cacos”, sem conotações pejorativas. Dentro do contexto, um bom ambiente, com indícios de estarmos perante um universo onde se vê que o dinheiro não é problema do dia-a-dia.
Ao nosso lado “estacionou” um grupo de motoqueiros brasileiros, já entradotes, que chegaram em reluzentes motas BMW’s, alugadas na Hertz. Depois de umas generosas e variadas entradas mandaram vir comida que dava para o dobro dos comensais, apesar de aparentarem ser bons garfos. Quem sabe se não tinham acabado de chegar do Algarve ou de Lisboa, cheios de larica, e ainda sem perceberam que o Norte é particularmente generoso quando toca a encher o prato. E não só. Mas metade da dose terá ficado na travessa, pois poucos heróis haverá capazes de vencer estes persistentes costumes nortenhos. 


Regresso à cidade
Após uma retemperadora sesta nos jardins do restaurante, era altura de regressar á cidade, não sem antes o Alexandre ter ido acariciar (na face) uma risonha estátua postada no jardim, enquanto o resto do grupo se refastelava nos sofás.
A viagem de regresso começou com um imprevisto: o Jorge antecipou-se a entrar na cabine do teleférico, pelo que teve de fazer uma viagem solitária, enquanto os restantes ficaram a resolver o problema do “nosso motorista”, que perdeu o bilhete, vai-se lá saber como. Valeu-lhe a simpatia da portageira, que acreditou na história (verdadeira) que lhe foi vendida pelo Bernardino, com inegável capacidade de persuasão.
O início da viagem foi turbulento, com os primeiros metros a uma velocidade vertiginosa (em termos relativos, comparada com o resto do percurso, tranquilo e em ritmo de passeio para a terceira idade).
Voltamos ao centro da cidade com o Rogério como protagonista de um episódio recambolesco: parado e de costas voltadas a quem vinha em sentido inverso, o Rogério volta-se de repente e, inadvertidamente (só pode, mas quem sou eu para o acusar ou ilibar) lançou o braço em direção aos peitos desprotegidas de uma donzela que vinha a descer a rua. “Parecia uma mola” confessou mais tarde o Rogério. “Deve ser maluco”, disse a rapariga ao passar por nós, mas sem disfarçar um olhar sorridente, vá-se lá saber porquê.
A conselho do Jorge fomos comprar brisas de Guimarães”, uma especialidade em doçaria, uma forma barata e inteligente de compensar as nossas mulheres do “inconveniente” (muito conveniente) de não terem vindo connosco.
Passamos junto a uma pitoresca ruela (uma de muitas) onde fica o Cantinho dos Cacos, sem vestígios de “cacos” de oitenta e muitos, que abundavam pelas ruas.
No Toural cruzamo-nos com um grupo de vimaranenses, todos homens (parece que Guimarães não tem mulheres, pelo menos na rua e de papo para o ar), todos com aspeto de quem está vestido para ir à missa, idades entre os 60 e 70 anos, em amena cavaqueira, de quem dispõe de todo o tempo do mundo.


Não há coincidências.
Tínhamos de regressar a casa, a tempo de assistir ao Espanha-Chile.
No mesmo dia em que o rei Juan Carlos abdicou do trono, exatamente no mesmo dia a seleção espanhola abdicou do título de campeã mundial. É caso para dizer que um azar nunca vem só. Mau agoiro para a seleção portuguesa, que acabou por se portar à altura do campeão do mundo. Em 2018 há mais.


Valadares, 18 de Junho de 2014
O secretário/cronista      
Alexandre Ribeiro      



1 comentário:

  1. Ainda bem que o Pinto da Mota não lê o blogue nem vê :-) as fotografias do bacalhau à Zé do Pipo. De certeza que nos iria perguntar de imediato: quando voltamos lá? Estava tão bom o bacalhau!!!
    Que pena não ter fotografado o Rogério em flagrante, no momento em que "nitidamente se aproveitou" dos "peitinhos da cabritinha" vimaranenese!!! :-)
    Boa crónica, Alexandre. Mais uma para memória futura. Um abraço

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