CAMPEONATO
NACIONAL DE FUTEBOL
Estando prestes
a terminar o campeonato nacional de futebol, com um vencedor já anunciado, é
altura de se fazerem alguns balanços e se retirarem algumas conclusões. Como
sou parte interessada (adepto do F. C. do Porto) aqui fica desde já a minha
declaração de interesses.
Eis algumas conclusões e análises que faço:
1 – O Benfica é
um campeão a quem tem de ser reconhecido todo o mérito, pesem embora algumas
vicissitudes (inevitáveis) que todos os anos e em todas as circunstâncias
ocorrem. Parabéns ao Benfica.
2 – Sem retirar
uma ponta de mérito ao Benfica, que mostrou ser a equipa mais regular e mais trituradora dos adversários ao longo
do campeonato, há que reconhecer que o Porto poderia ter sido campeão, o que
exigiria e significaria que teria feito uma época extraordinária, quase ao
nível das suas melhores de sempre. Efetivamente não foi assim e o Porto
fraquejou, por diversas razões, em todos os momentos cruciais do campeonato.
3 –
Demonstrou-se de forma evidente que o nosso campeonato tem 4 escalões
claramente definidos: os 3 grandes, 3 ou 4 equipas que em cada ano ousam
chegar-se aos três do topo e fazer umas gracinhas, meia dúzia de equipas que
com alguma tranquilidade conseguem em anos sucessivos garantir a permanência e
meia dúzia de aflitos que vão alternando no inevitável sobe e desce. Há muita
rigidez neste escalonamento e é difícil a qualquer equipa mudar de escalão.
4 – Num
campeonato a 3 – Porto, Benfica e Sporting – o Benfica teria feito 6 pontos, o
Porto 5 e o Sporting 3. Estes resultados aparecem claramente refletidos na
classificação final. O Benfica demonstrou uma grande consistência defensiva, uma
boa leitura do jogo e dos acontecimentos e um enorme pragmatismo. Mas foi dos 3
a equipa menos ousada, a que menos mostrou (pelo menos na aparência) vontade e
capacidade para cair em cima dos adversários, afirmando a sua superioridade. No
jogo da Luz um Benfica à campeão e com vontade de se afirmar como equipa
superior tinha obrigação de cair em cima do Porto e ganhar o jogo. O Porto falhou,
perdeu a sua derradeira oportunidade, mas em condições normais até teria obtido
um bom resultado. O Benfica atingiu o seu objetivo, mas não foi aqui que demonstrou
porque é que está à frente do Porto. Limitou-se a ser pragmático e consistente,
o que, já sendo muito, é muito pouco para quem deveria confirmar a sua apregoada
superioridade.
5 – Nos jogos
entre os 3 grandes não se pode dizer que houve erros clamorosos dos árbitros,
pelo que praticamente não há razões para contestação. Curiosamente o grande
desequilibrador aqui acabou por ser o fator sorte, que em todas as
circunstâncias sorriu ao Benfica, com um estrondoso bambúrrio particularmente
no Dragão e em Alvalade. Se a sorte dos jogos tivesse sorriso ao Porto com a
mesma intensidade o F. C. P. poderia ter somado 8 ou até 10 pontos e o Benfica
poderia ter-se ficado pelos 2 ou 3. E a sorte do campeonato teria sido
completamente outra. Diga-se o que se disser, o fator sorte acaba por ser, em
jogos entre equipas de valor semelhante, um fator decisivo e que acaba por
marcar os jogadores para o resto do campeonato.
6 – No
campeonato com os médios e pequenos clubes o Benfica revelou uma manifesta
superioridade, somando sucessivas e esmagadoras vitórias, ao contrário do Porto
e do Sporting que foram desperdiçando pontos por todo o lado.
7 – Quando há um
notório equilíbrio entre equipas que lutam pelo título, este acaba por decidir-se
pelos pontos ganhos em jogos onde se anteviam dificuldades e os pontos perdidos
onde era suposto ganhar-se. Sem querer dar nenhum ênfase especial a qualquer
dos fatores que vou citar, considero que há 4 de relevância decisiva na
atribuição dos pontos:
- Os erros (penalizadores ou de favorecimento) da arbitragem
- Os erros taticos ou estratégicos dos treinadores
- A atitude dos jogadores em campo em determinados jogos
- O fator sorte/azar, nomeadamente quando decididos nos últimos minutos de um jogo
Tendo em conta
estes 4 fatores acho que o Porto terá perdido mal cerca de 14 pontos - com o Guimarães, com o Benfica no Dragão, com
o Boavista, com o Estoril, com o Marítimo, com o Nacional. Neste critério o
Benfica terá perdido apenas 6 pontos (com o Rio Ave e com o Paços de Ferreira)
em jogos que chegou a ter na mão.
Já quanto a
pontos ganhos de forma inesperada ou com favorecimento (do árbitro ou da sorte)
o Porto terá beneficiado apenas nos jogos de Penafiel e Estoril, enquanto o
Benfica soma uma mão cheia, nos jogos com o Porto e Sporting, Rio Ave e Gil
Vicente na Luz e com o Moreirense.
Foi aqui que se
decidiu o campeonato e aqui o Porto perdeu em toda a linha. Nestes 4 fatores
decisivos e em jogos cruciais o Benfica levou claramente a melhor sobre o
Porto. E se o Benfica acabar sendo campeão apenas com 3 pontos de avanço isso
significa que o Porto bem poderia ter trocado as voltas ao destino. Mas a vida
é assim. Para o ano há mais.
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