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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 4 de maio de 2015


CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEBOL

Estando prestes a terminar o campeonato nacional de futebol, com um vencedor já anunciado, é altura de se fazerem alguns balanços e se retirarem algumas conclusões. Como sou parte interessada (adepto do F. C. do Porto) aqui fica desde já a minha declaração de interesses.

 Eis algumas conclusões e análises que faço:

1 – O Benfica é um campeão a quem tem de ser reconhecido todo o mérito, pesem embora algumas vicissitudes (inevitáveis) que todos os anos e em todas as circunstâncias ocorrem. Parabéns ao Benfica.

2 – Sem retirar uma ponta de mérito ao Benfica, que mostrou ser a equipa mais regular e mais trituradora dos adversários ao longo do campeonato, há que reconhecer que o Porto poderia ter sido campeão, o que exigiria e significaria que teria feito uma época extraordinária, quase ao nível das suas melhores de sempre. Efetivamente não foi assim e o Porto fraquejou, por diversas razões, em todos os momentos cruciais do campeonato.

3 – Demonstrou-se de forma evidente que o nosso campeonato tem 4 escalões claramente definidos: os 3 grandes, 3 ou 4 equipas que em cada ano ousam chegar-se aos três do topo e fazer umas gracinhas, meia dúzia de equipas que com alguma tranquilidade conseguem em anos sucessivos garantir a permanência e meia dúzia de aflitos que vão alternando no inevitável sobe e desce. Há muita rigidez neste escalonamento e é difícil a qualquer equipa mudar de escalão.

4 – Num campeonato a 3 – Porto, Benfica e Sporting – o Benfica teria feito 6 pontos, o Porto 5 e o Sporting 3. Estes resultados aparecem claramente refletidos na classificação final. O Benfica demonstrou uma grande consistência defensiva, uma boa leitura do jogo e dos acontecimentos e um enorme pragmatismo. Mas foi dos 3 a equipa menos ousada, a que menos mostrou (pelo menos na aparência) vontade e capacidade para cair em cima dos adversários, afirmando a sua superioridade. No jogo da Luz um Benfica à campeão e com vontade de se afirmar como equipa superior tinha obrigação de cair em cima do Porto e ganhar o jogo. O Porto falhou, perdeu a sua derradeira oportunidade, mas em condições normais até teria obtido um bom resultado. O Benfica atingiu o seu objetivo, mas não foi aqui que demonstrou porque é que está à frente do Porto. Limitou-se a ser pragmático e consistente, o que, já sendo muito, é muito pouco para quem deveria confirmar a sua apregoada superioridade.

5 – Nos jogos entre os 3 grandes não se pode dizer que houve erros clamorosos dos árbitros, pelo que praticamente não há razões para contestação. Curiosamente o grande desequilibrador aqui acabou por ser o fator sorte, que em todas as circunstâncias sorriu ao Benfica, com um estrondoso bambúrrio particularmente no Dragão e em Alvalade. Se a sorte dos jogos tivesse sorriso ao Porto com a mesma intensidade o F. C. P. poderia ter somado 8 ou até 10 pontos e o Benfica poderia ter-se ficado pelos 2 ou 3. E a sorte do campeonato teria sido completamente outra. Diga-se o que se disser, o fator sorte acaba por ser, em jogos entre equipas de valor semelhante, um fator decisivo e que acaba por marcar os jogadores para o resto do campeonato.

6 – No campeonato com os médios e pequenos clubes o Benfica revelou uma manifesta superioridade, somando sucessivas e esmagadoras vitórias, ao contrário do Porto e do Sporting que foram desperdiçando pontos por todo o lado.

7 – Quando há um notório equilíbrio entre equipas que lutam pelo título, este acaba por decidir-se pelos pontos ganhos em jogos onde se anteviam dificuldades e os pontos perdidos onde era suposto ganhar-se. Sem querer dar nenhum ênfase especial a qualquer dos fatores que vou citar, considero que há 4 de relevância decisiva na atribuição dos pontos:

  1. Os erros (penalizadores ou de favorecimento) da arbitragem
  2. Os erros taticos ou estratégicos dos treinadores
  3. A atitude dos jogadores em campo em determinados jogos
  4. O fator sorte/azar, nomeadamente quando decididos nos últimos minutos de um jogo

Tendo em conta estes 4 fatores acho que o Porto terá perdido mal cerca de 14 pontos -  com o Guimarães, com o Benfica no Dragão, com o Boavista, com o Estoril, com o Marítimo, com o Nacional. Neste critério o Benfica terá perdido apenas 6 pontos (com o Rio Ave e com o Paços de Ferreira) em jogos que chegou a ter na mão.

Já quanto a pontos ganhos de forma inesperada ou com favorecimento (do árbitro ou da sorte) o Porto terá beneficiado apenas nos jogos de Penafiel e Estoril, enquanto o Benfica soma uma mão cheia, nos jogos com o Porto e Sporting, Rio Ave e Gil Vicente na Luz e com o Moreirense.

Foi aqui que se decidiu o campeonato e aqui o Porto perdeu em toda a linha. Nestes 4 fatores decisivos e em jogos cruciais o Benfica levou claramente a melhor sobre o Porto. E se o Benfica acabar sendo campeão apenas com 3 pontos de avanço isso significa que o Porto bem poderia ter trocado as voltas ao destino. Mas a vida é assim. Para o ano há mais.

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