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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015


EM DEFESA DAS SCUT’S (I)

Acontecimentos recentes vieram relançar o debate sobre diversos temas de interesse público, alguns dos quais muito discutidos em determinada altura, mas que gradualmente foram abandonando os fóruns de discussão, como se tivessem deixado de despertar o interesse dos cidadãos, o que não é verdade. Irei hoje abordar um desses temas, a questão das Scut’s (vias rodoviárias com perfil de autoestradas mas sem custos para o utilizador). Vou dividir a minha análise em 4 capítulos:

         1 – negócios e negociatas em torno das Scut’s

         2 – as Scut’s serão necessárias?

         3 – a solidariedade nacional e o princípio do utilizador/pagador

         4 - a herança que deixamos aos nossos netos


1 – Negócios e negociatas em torno das Scut’s
É evidente, mas era inevitável, que as Scut’s geram um negócio de muitos milhões. Nada a obstar se os negócios forem tratados com a necessária lisura por todos os parceiros envolvidos, a começar pelo estado, que tem o estrito dever de proporcionar a melhor qualidade de vida aos cidadãos e tem a obrigação de defender os seus interesses.


Não querendo aqui entrar em processos de intenções, nomeadamente direcionados a A ou B, há artigos e até livros publicados onde ficam claras as negociatas que as Scut’s proporcionaram. Muitas empresas e muita gente terá ganho muito dinheiro com a construção de mais estradas que as estritamente necessárias, com custos muito acima do razoável, onde as concessionárias terão feito contratos leoninos com taxas de rentabilidade garantidas muito superiores às que um mercado verdadeiramente concorrencial proporcionaria. A acrescentar a isso temos autarquias a impor a sua vontade para alimentar vaidades e servir clientelas. Em suma, são evidentes os excessos, há fumos de corrupção e deteta-se à légua a captura do estado pelos interesses do costume.


Tudo isto são lugares comuns que deixam o cidadão honesto desconfiado e furioso, com toda a razão. Excessos, clientelismo, ganhos ilícitos ou imorais e corrupção “parecem” estar omnipresentes no dossier “Scut’s. A isso pode juntar-se a inoportunidade de o país ter de gastar agora tanto dinheiro em momento de enormes dificuldades financeiras.


Nenhum sensato chefe de uma família normal, com 3 ou 4 elementos no agregado familiar, pertencente à classe média, construiria uma casa de luxo, com 10 quartos, numa zona residencial privilegiada, pagando ao empreiteiro uma verba acima da que conseguiria se entregasse a obra a um concorrente, ficando a suportar uma prestação bancária que atiraria as suas finanças para despesas acima dos rendimentos da família.
Mas todo o chefe de família aspira, legitimamente, a ter uma casa decente e confortável, ajustada à dimensão do seu agregado, estando disposto a suportar durante 20, 30 ou 40 anos uma prestação justa, mesmo que dura, desde que enquadrável no seu orçamento familiar.


Mais uma vez teremos de avaliar a dimensão correta das coisas e as aspirações legítimas dos cidadãos ou de todo um povo, confrontadas com os excessos, associados a erros e negociatas, que uns têm de pagar e de que outros beneficiem ilegítima ou excessivamente.E dito isto, para que fique clara a minha “declaração de interesses”, vamos passar ao que aqui me trouxe


(continua)




 

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