EM DEFESA DAS SCUT’S
(II)
2 – as Scut’s serão
necessárias?
Há uns anos atrás surgiu
um slogan a propósito dos custos da formação:
“se acham que a
educação é cara experimentem investir na ignorância”
Este slogan vem-me à
memória sempre que vejo ser discutido o problema das Scut’s. Tenho visto
pessoas respeitáveis, e até técnicos reputados, discutirem o problema das Scut´s
com o único foco nos custos, parecendo ignorar que o interesse de qualquer
investimento só pode ser avaliado no balanceamento entre custos e benefícios.
Por muito elevados que sejam os custos um investimento pode ser interessante se
os benefícios os suplantarem. Ora, quando vejo os críticos das Scut’s falarem dos
benefícios é só para referirem a escassez das receitas de portagens. É uma
análise confrangedoramente redutora, que faria qualquer defensor da ideia
reprovar num exame de economia. Não haverá outros e importantíssimos
benefícios? Para começar, a queda do número de mortos nas estradas (que desceu
ao nível da altura em que o nosso parque automóvel era 100 mil veículos, quando
hoje é sete milhões – 70 vezes maior) em grande parte deve-se à melhoria das
nossas vias rodoviárias, nomeadamente troços com faixas de rodagem com
separador central, sem cruzamentos ao nível, interditos a peões e com desvio do
tráfego do centro das nossas cidades, vilas e aldeias, onde os atropelamentos,
nomeadamente crianças, eram diários, configurando tragédias sem fim e sem preço.
Quantos milhares de vidas se terão poupado nos últimos 20 anos?
E quanto se poupa em
horas de viagem e desgaste nas viaturas numa viagem longa? Lembro-me que há 30
anos para ir fazer uma curta reunião em Bragança (partindo do Porto) tinha
obrigatoriamente de pernoitar naquela cidade, salvo se saísse de madrugada e quisesse
regressar a altas horas da noite. Pois há pouco tempo precisei de ir a Chaves,
saí do Porto era quase meio-dia, almocei no destino, tratei dos assuntos que lá
me levaram, regressei a casa e às 17 horas estava numa esplanada a tomar uma
bebida à beira-mar. Há 30 anos isto era completamente impossível e uma mera miragem.
Experimente-se agora pôr
uns pedregulhos à entrada das Scut’s e obrigar os condutores de carros
ligeiros, camiões e camionetas a voltar a passar nas estradas do início do
século passado, atravessando o centro das cidades, vilas e aldeias. Imagine-se
qual seria a reação das populações ao perderam a qualidade de vida que as suas
terras ganharam com a passagem próxima de uma Scut e com o desvio do tráfego. E
pergunte-se ao maior detrator das Scut’s se ainda está disposto a ir do Porto
a Bragança pela velha estrada de Amarante, galgando a serra do Marão em fila
indiana atrás de camiões que não podem ser ultrapassados, descendo depois as
célebres curvas de Murça. Os mais novos já nem fazem uma ideia do que é uma
viagem dessas e se a tivessem de fazer achariam, com razão, que tínhamos voltado
à idade média.
Não vale a pena
alongar-me muito mais a falar nos horrores das nossas antigas estradas, no
comodismo e na segurança das nossas Scut´s e nos benefícios económicos que nos
proporcionam e ainda mais proporcionarão no futuro.
Façamos as contas aos
benefícios (presentes e futuros), comparemos com os custos e então sim, estaremos
honestamente a tomar uma posição séria e fundamentada sobre o interesse ou a
inutilidade das Scut´s. Continuar a falar só de custos e de negociatas não
acrescenta nada de útil à essência do problema, salvo se conseguirmos alterar a
relação de força e as cláusulas leoninas de que usufruem as concessionárias. E
mesmo quando se fala em autoestradas com escasso movimento – outro chavão que
estamos sempre a ouvir - não podemos esquecer-nos do enorme benefício de que
usufruem não só os utilizadores (mesmo que escassos), mas também os povoados
para onde se dirigem ou de onde partem, esses muito mais difíceis de
quantificar. E não podemos esquecer que nos primeiros tempos a ponte da
Arrábida também esteve às moscas. Nem podemos ignorar que as Scut´s vão ser
muito mais utilizadas, e provavelmente durante um período útil mais alargado,
que as estradas romanas, tão caras na altura, mas tão importantes para o
crescimento do império e o desenvolvimento da civilização.
(continua)
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