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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015


JE SUIS CHARLIE

Sobre os recentes acontecimentos de Paris já foi dito praticamente tudo. É por isso tempo de deixar assentar a poeira e fazer sínteses. Fica a pairar no ar um conjunto de perguntas para as quais há respostas para todos os gostos:

Estaremos em presença de uma guerra religiosa? Está latente um choque de civilizações? Trata-se de uma vingança histórica? Ou de uma vingança de pessoas desintegradas e ressabiadas? Há um Islão político com planos de domínio?

Não vou (para já) dar respostas ou emitir a minha opinião, limitando-me a transcrever excertos de análises e artigos de opinião que vão desde explicações remotas até causas próximas, refletindo visões muito díspares sobre o tema.

Prevalecia a ideia de que os cristãos se deviam congregar, abandonar terras, casas, esposas e filhos e marchar para a Palestina para libertar Jerusalém do infiel, ganhando indulgências que libertassem do pecado e, se a morte ocorresse na viagem ou na guerra, a entrada direta no reino dos céus. A cruzada, para além do impulso espiritual, radicava na decorrência normal do estado de guerra: violência, pilhagem e morte. Um exército de cruzados só podia existir se o saque e a aquisição de novos territórios fossem decorrências normais da sua ação - Visão História dedicada às cruzadas século XI, XII e XIII.

Não se apaga da memória coletiva a estupidez da inquisição, os excessos das cruzadas ou a violência da colonização - Expresso de 10 de Janeiro – Martim Avillez Figueiredo

Das crueldades da luta contra as revoltas escravas, ao modus operandi do regime de Hitler, passando pelas cruzadas e terminando na forma como nos séculos XXVI a XX se aniquilaram populações indígenas um pouco por todo o mundo… não podemos dizer que somos tolerantes no nosso ADN - Visão  de 15 de Janeiro

A resposta do jornal atacado, coerente com a sua atitude provocadora de sempre, foi a única que podia ser tomada para gritar, alto e bom som, que não se rende ao terror. E essa coragem impunha-se. E deve ser louvada. Mas, como era inevitável, contribuiu para exacerbar ainda mais o discurso dos fanáticos que reclamaram a autoria do massacre e de todos os outros que o aplaudiram e gostariam de ter praticado. Os terroristas não serão derrotados na Europa se não o forem antes na origem. Para que tal aconteça será indispensável o apoio ativo e determinado dos estados e dos povos de onde emergiram e que, até agora, têm sido as maiores vítimas  - Expresso de 17 de Janeiro – Fernando Madrinha

Defender a liberdade de publicar cartoons provocatórios não é gostar deles, concordar com eles ou até aprovar a sua publicação. Para defender a liberdade do outro falar não temos a obrigação de usar a liberdade como ele a usa. A nossa liberdade de expressão também passa pela autocensura - Expresso de 17 de Janeiro – Daniel Oliveira

Se um indivíduo muçulmano destratar a mulher, se forçar a filha a casar, se violar mulheres por elas usarem minissaia, se disparar a cotovia do mal sobre um jornalista, um indivíduo deve ser preso e, se necessário, deportado. O problema é que muitos tendem a considerar que estes atos não são crimes mas sim fenómenos culturais caso sejam perpetrados por um muçulmano - Expresso de 17 de Janeiro – Henrique Raposo, a propósito da forma como na Europa são muitas vezes tratados os crimes perpetrados por muçulmanos.

Todos os terroristas islâmicos vêm de estados falhados, de sociedades iníquas e despóticas e, pela cobardia e pelo terror, preferem atacar as sociedades livres que invejam e que os acolhem, em lugar de se dedicarem a transformar as sociedades medievais de onde vêm ou onde vivem. O que temos de levar a sério é a complacência do mundo muçulmano para com aqueles que invocam a sua fé e a sua doutrina para espalhar o terror e minar os fundamentos da s sociedades em que vivemos. O terrorismo islâmico conseguiu já impensáveis vitórias na forma como nos tornamos sociedades policiadas - Expresso de 10 de Janeiro – Miguel Sousa Tavares

O ataque ao Charlie Hebdo organizado como uma operação militar, não foi um ato desesperado. Tal como o 11 de Setembro não foi. Foi um ataque planeado. Pensado. Estudado. Este Islão não nos quer matar e submeter por ser bárbaro e primitivo. Este Islão quer o poder e reproduzir o poder de um passado glorioso num tempo de decadência. Não podemos contar com o Islão moderado, porque o Islão moderado, constituído por gente decente, está acocorado de medo ou definitivamente contra a ideia de “combater os irmãos muçulmanos” - Revista do Expresso de 10 de Janeiro – Clara Ferreira Alves

Antes de derrotar um inimigo temos de o compreender, Esta é a primeira regra do combate. E os idiotas (os europeus) passaram ao lado - Revista do Expresso de 17 de Janeiro 2015, artigo onde Clara Ferreira Alves cita um combatente da EI

O velho semanário satírico, libertário e anticlerical estava a agonizar. O fanatismo vai talvez acabar por salvá-lo – Visão de 15 de Janeiro

Com as caricaturas de Maomé procuraram um monstro, depois picaram o monstro para ver se ele mordia e ele acabou por morder mesmo. …parecia-me um pouco que era como disparar sobre uma ambulância - Visão de 15 de Janeiro – Alexandre Devaux, amigo de cortonistas assassinados.

Alguns cartoons eram uma perigosa, desnecessária e politicamente irresponsável provocação - Visão  de 15 de Janeiro Dominique Moisi

Porquê insistir na representação do profeta que se sabe ofender os muçulmanos? Não estou de acordo. Não em meu nome – Expresso de 17 de Janeiro – Ana Gomes

1 comentário:

  1. Todo o Mundo ficou atónito com este ataque terrorista por parte destes dois irmãos fanáticos que mataram tão cruelmente e a sangue frio. Também já tive a oportunidade de expressar (noutro espaço) a minha revolta e confusão em relação a este trágico acontecimento.
    Não me vou repetir por isso mesmo apenas digo que a religião, qualquer que ela seja, levada ao extremo normalmente leva a perseguições, expulsões e exterminações cruéis e doentias.
    Mesmo em Portugal no tempo do rei D. Manuel II os Judeus foram perseguidos e expulsos de Portugal. Outros tempos... pois o Papa Francisco é um bom exemplo de como a Igreja Católica mudou e evoluiu no bom sentido. Será que os islamitas mesmo agora no século XXI ainda se apresentam (sob o ponto de vista cultural, moral e religioso) com a mentalidade de quem viveu nos séculos XIV e XV?
    Um abraço

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