JE
SUIS CHARLIE
Sobre os
recentes acontecimentos de Paris já foi dito praticamente tudo. É por isso tempo
de deixar assentar a poeira e fazer sínteses. Fica a pairar no ar um conjunto
de perguntas para as quais há respostas para todos os gostos:
Estaremos em presença de uma
guerra religiosa? Está latente um choque de civilizações? Trata-se de uma
vingança histórica? Ou de uma vingança de pessoas desintegradas e ressabiadas? Há um Islão político com planos de domínio?
Não
vou (para já) dar respostas ou emitir a minha opinião, limitando-me a
transcrever excertos de análises e artigos de opinião que vão desde explicações
remotas até causas próximas, refletindo visões muito díspares sobre o tema.
Prevalecia
a ideia de que os cristãos se deviam congregar, abandonar terras, casas,
esposas e filhos e marchar para a Palestina para libertar Jerusalém do infiel,
ganhando indulgências que libertassem do pecado e, se a morte ocorresse na
viagem ou na guerra, a entrada direta no reino dos céus. A cruzada, para além
do impulso espiritual, radicava na decorrência normal do estado de guerra:
violência, pilhagem e morte. Um exército de cruzados só podia existir se o
saque e a aquisição de novos territórios fossem decorrências normais da sua
ação - Visão História dedicada às cruzadas século XI, XII
e XIII.
Não
se apaga da memória coletiva a estupidez da inquisição, os excessos das
cruzadas ou a violência da colonização - Expresso de 10 de
Janeiro – Martim Avillez Figueiredo
Das
crueldades da luta contra as revoltas escravas, ao modus operandi do regime de
Hitler, passando pelas cruzadas e terminando na forma como nos séculos XXVI a
XX se aniquilaram populações indígenas um pouco por todo o mundo… não podemos
dizer que somos tolerantes no nosso ADN - Visão de 15 de Janeiro
A
resposta do jornal atacado, coerente com a sua atitude provocadora de sempre,
foi a única que podia ser tomada para gritar, alto e bom som, que não se rende
ao terror. E essa coragem impunha-se. E deve ser louvada. Mas, como era
inevitável, contribuiu para exacerbar ainda mais o discurso dos fanáticos que
reclamaram a autoria do massacre e de todos os outros que o aplaudiram e
gostariam de ter praticado. Os terroristas não serão derrotados na Europa se
não o forem antes na origem. Para que tal aconteça será indispensável o apoio
ativo e determinado dos estados e dos povos de onde emergiram e que, até agora,
têm sido as maiores vítimas - Expresso
de 17 de Janeiro – Fernando Madrinha
Defender
a liberdade de publicar cartoons provocatórios não é gostar deles, concordar
com eles ou até aprovar a sua publicação. Para defender a liberdade do outro
falar não temos a obrigação de usar a liberdade como ele a usa. A nossa
liberdade de expressão também passa pela autocensura - Expresso
de 17 de Janeiro – Daniel Oliveira
Se
um indivíduo muçulmano destratar a mulher, se forçar a filha a casar, se violar
mulheres por elas usarem minissaia, se disparar a cotovia do mal sobre um
jornalista, um indivíduo deve ser preso e, se necessário, deportado. O problema
é que muitos tendem a considerar que estes atos não são crimes mas sim
fenómenos culturais caso sejam perpetrados por um muçulmano - Expresso
de 17 de Janeiro – Henrique Raposo, a propósito da forma como na Europa são
muitas vezes tratados os crimes perpetrados por muçulmanos.
Todos
os terroristas islâmicos vêm de estados falhados, de sociedades iníquas e
despóticas e, pela cobardia e pelo terror, preferem atacar as sociedades livres
que invejam e que os acolhem, em lugar de se dedicarem a transformar as
sociedades medievais de onde vêm ou onde vivem. O que temos de levar a sério é a
complacência do mundo muçulmano para com aqueles que invocam a sua fé e a sua
doutrina para espalhar o terror e minar os fundamentos da s sociedades em que
vivemos. O terrorismo islâmico conseguiu já impensáveis vitórias na forma como
nos tornamos sociedades policiadas - Expresso de 10 de
Janeiro – Miguel Sousa Tavares
O
ataque ao Charlie Hebdo organizado como uma operação militar, não foi um ato
desesperado. Tal como o 11 de Setembro não foi. Foi um ataque planeado.
Pensado. Estudado. Este Islão não nos quer matar e submeter por ser bárbaro e
primitivo. Este Islão quer o poder e reproduzir o poder de um passado glorioso
num tempo de decadência. Não podemos contar com o Islão moderado, porque o
Islão moderado, constituído por gente decente, está acocorado de medo ou
definitivamente contra a ideia de “combater os irmãos muçulmanos” - Revista
do Expresso de 10 de Janeiro – Clara Ferreira Alves
Antes
de derrotar um inimigo temos de o compreender, Esta é a primeira regra do
combate. E os idiotas (os europeus) passaram ao lado - Revista
do Expresso de 17 de Janeiro 2015, artigo onde Clara Ferreira Alves cita um
combatente da EI
O
velho semanário satírico, libertário e anticlerical estava a agonizar. O
fanatismo vai talvez acabar por salvá-lo – Visão de 15
de Janeiro
Com
as caricaturas de Maomé procuraram um monstro, depois picaram o monstro para
ver se ele mordia e ele acabou por morder mesmo. …parecia-me um pouco que era
como disparar sobre uma ambulância - Visão de 15 de
Janeiro – Alexandre Devaux, amigo de cortonistas assassinados.
Alguns
cartoons eram uma perigosa, desnecessária e politicamente irresponsável
provocação - Visão de
15 de Janeiro Dominique Moisi
Porquê
insistir na representação do profeta que se sabe ofender os muçulmanos? Não estou
de acordo. Não em meu nome – Expresso de 17 de Janeiro – Ana
Gomes
Todo o Mundo ficou atónito com este ataque terrorista por parte destes dois irmãos fanáticos que mataram tão cruelmente e a sangue frio. Também já tive a oportunidade de expressar (noutro espaço) a minha revolta e confusão em relação a este trágico acontecimento.
ResponderEliminarNão me vou repetir por isso mesmo apenas digo que a religião, qualquer que ela seja, levada ao extremo normalmente leva a perseguições, expulsões e exterminações cruéis e doentias.
Mesmo em Portugal no tempo do rei D. Manuel II os Judeus foram perseguidos e expulsos de Portugal. Outros tempos... pois o Papa Francisco é um bom exemplo de como a Igreja Católica mudou e evoluiu no bom sentido. Será que os islamitas mesmo agora no século XXI ainda se apresentam (sob o ponto de vista cultural, moral e religioso) com a mentalidade de quem viveu nos séculos XIV e XV?
Um abraço