Neste tempo pascal, um tema com referências bíblicas
BRUTUS E O CORDEIRO SACRIFICIAL
Há duas figuras lendárias que
entraram para a mitologia por razões semelhantes, muito embora de forma
completamente diferente.
Uma dessas figuras entrou na
mitologia através da religião. É o cordeiro sacrificial, que tem honras de
citação em todas as missas, a partir do momento em que Cristo, sem sombra de
pecado, assume os pecados dos homens e aceita morrer por eles. Transformou-se
assim no “cordeiro de Deus que tira os
pecados do mundo”, na senda do “bode
expiatório”, outra figura bíblica que se lhe antecedeu.
O cordeiro ou o bode expiatório
são animais imaculados e sem culpa alguma das asneiras dos homens, mas que estes
imolam sem dó nem piedade, transferindo para o pobre animal todas as culpas. E
ao imolar o bode expiatório desviam as atenções e as culpas para um inocente,
remetendo para a sombra os verdadeiros culpados das desgraças sofridas ou das
atrocidades cometidas por outros.
A outra figura – Brutus – assume
semelhanças várias com o cordeiro, mas também óbvias diferenças. Brutus é uma
figura histórica que a posteridade associa (com razão) ao assassinato de Júlio
César. Ao contrário do cordeiro/bode expiatório, Brutus participou ativamente
na conjura. Quiçá teve mesmo uma responsabilidade determinante na decisão de
assassinar César. Contudo Brutus não agiu sozinho. Vários senadores acicataram
o grupo e assinaram a sentença de morte de César. E concretizaram a decisão, desferindo,
à vez, sucessivas facadas no indefeso Júlio.
Mas a história que é do domínio popular
não acrescentou mais um único nome ao de Brutus no assassinato de César. Para a
posteridade ficou apenas e só o Brutus, que César identificou e individualizou
com a célebre e histórica frase: “também
tu, Brutus?”.
A história está cheia de Brutus,
que permitem que se deixe na sombra tantos e tantos responsáveis por
atrocidades, erros ou momentos infelizes.
Já os cordeiros sacrificiais
(impolutos e completamente alheios aos erros humanos) são verdadeiramente
raros. Penso mesmo que, fora da religião, a história não regista nenhum.
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