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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

segunda-feira, 14 de abril de 2014


Neste tempo pascal, um tema com referências bíblicas

 

BRUTUS E O CORDEIRO SACRIFICIAL

Há duas figuras lendárias que entraram para a mitologia por razões semelhantes, muito embora de forma completamente diferente.
Uma dessas figuras entrou na mitologia através da religião. É o cordeiro sacrificial, que tem honras de citação em todas as missas, a partir do momento em que Cristo, sem sombra de pecado, assume os pecados dos homens e aceita morrer por eles. Transformou-se assim no “cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, na senda do “bode expiatório”, outra figura bíblica que se lhe antecedeu.
O cordeiro ou o bode expiatório são animais imaculados e sem culpa alguma das asneiras dos homens, mas que estes imolam sem dó nem piedade, transferindo para o pobre animal todas as culpas. E ao imolar o bode expiatório desviam as atenções e as culpas para um inocente, remetendo para a sombra os verdadeiros culpados das desgraças sofridas ou das atrocidades cometidas por outros.
A outra figura – Brutus – assume semelhanças várias com o cordeiro, mas também óbvias diferenças. Brutus é uma figura histórica que a posteridade associa (com razão) ao assassinato de Júlio César. Ao contrário do cordeiro/bode expiatório, Brutus participou ativamente na conjura. Quiçá teve mesmo uma responsabilidade determinante na decisão de assassinar César. Contudo Brutus não agiu sozinho. Vários senadores acicataram o grupo e assinaram a sentença de morte de César. E concretizaram a decisão, desferindo, à vez, sucessivas facadas no indefeso Júlio.
Mas a história que é do domínio popular não acrescentou mais um único nome ao de Brutus no assassinato de César. Para a posteridade ficou apenas e só o Brutus, que César identificou e individualizou com a célebre e histórica frase: “também tu, Brutus?”.
A história está cheia de Brutus, que permitem que se deixe na sombra tantos e tantos responsáveis por atrocidades, erros ou momentos infelizes.
Já os cordeiros sacrificiais (impolutos e completamente alheios aos erros humanos) são verdadeiramente raros. Penso mesmo que, fora da religião, a história não regista nenhum.

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