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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 5 de abril de 2014


Reflexões acerca da produtividade

O tema da produtividade é daqueles que suscita reflexão a todos os cidadãos conscientes, tão grande é o seu impacto no nosso futuro coletivo. Aqui vamos ter um exemplo: vou publicar a opinião do Eng.º João Pais, que tem desempenhado funções de gestor e consultor em reputadas empresas multinacionais, o que o tem levado a percorrer o mundo inteiro. O seu testemunho, de alguém que "anda por fora" e analisa os problemas sob outros ângulos ,enquadrados em matrizes de análise diversas, só enriquece este espaço de diálogo, independentemente de se concordar ou não com os seus pontos de vista. Passo-lhe por isso a palavra.
Alexandre Ribeiro

A produtividade média de um país só marginalmente tem a ver com a qualidade da massa laboral desse mesmo país; a questão fundamental tem a ver com a gestão política e económica do país acumulada nas últimas 2 ou 3 décadas.

No entanto, e apesar disso, o nível salarial líquido médio possível de praticar em um certo momento é função quase exclusiva desse índice de produtividade; caso contrário haverá uma explosão do desemprego.


1.a constatação - Desde 1990 até hoje, Portugal teve um saldo líquido positivo nas transferências com a UE de cerca de 45 MM Euros, o saldo das remessas de emigrantes foi positivo em cerca de 35 MM Euros; mesmo assim a dívida pública aumentou no período em 176 MM Euros (100% do PIB atual), e o crescimento foi completamente pífio (deficit variando de -2% a +3%, típico entre 1 e 2%); além desta dívida pública deverão existir mais 30 MM Euros de encargos obrigatórios à data de hoje resultante das PPP (para usar a mesma base de 1990). Onde está esse capital de 280 MM Euros? Portugal evoluiu ou regrediu no pós 25 de Abril? Certamente esta é uma avaliação muito complexa.
O modelo social-económico derivado da gestão política tem que entrar em completa rotura, isto não vai com placebos, ou terá que aparecer novamente o "benemérito tio rico"; basicamente, a gestão económico-social não pode mais ser ditada pela compra de votos a curto prazo (gastando só para criar a falsa noção de bem estar numa população que tem um nível de educação económica muito baixa). Ainda hoje, certamente para não assustar demasiado os credores e por falta de coragem de enfrentar os enganados eleitores, os dirigentes de Portugal não expõem com toda a crueza o fracasso do passado. As entidades financeiras foram as aliadas dos gestores políticos, no sentido em que podiam ganhar dinheiro fácil satisfazendo os desejos de poder dos políticos.

Ora a Alemanha não teve este "tio rico", teve que se adaptar e com muito sucesso a criar riqueza genuína.


2.a constatação - A produtividade depende mais de uma elite reduzida, que das qualidades médias da massa laboral. As profissões são cada vez mais "procedimento" e cada vez menos "conhecimento específico". Então para a produtividade, a formação fixa de capital, entendo, deve ser também o primeiro fator, a elite técnica e empresarial existe, não há é elite política.

Ora capital existiu e muito mas foi para destinos errados; a política económica/fiscal foi sempre no sentido de descapitalizar as empresas privadas por meio de uma carga fiscal brutal direta e indireta sobre iniciativa privada; as empresas industriais foram desprezadas, perseguidas por todo o tipo de poder, inclusive o local, desde o 25 de Abril, e assim continua mais ou menos.


João Pais


Continua


 

1 comentário:

  1. Embora não me sinta muito habilitado para discutir “taco-a-taco” contigo nestas coisas de economia, li com muita atenção e reflecti sobre o conteúdo deste teu primeiro post acerca da reflexão sobre produtividade do Engº João Pais.
    Apesar disso, permite-me chamar aqui um pequeno parágrafo do fim da 1ª constatação com o qual não estou mesmo nada de acordo e que passo a citar: “Ora a Alemanha não teve este "tio rico", teve que se adaptar e com muito sucesso a criar riqueza genuína.”
    Não teve!? Ai, teve, teve e de que maneira! Chamava-se e chama-se “Tio Sam”.
    De facto, lendo um pouco de história, pode chegar-se à conclusão de que a Alemanha - de facto - recuperou rapidamente da II Guerra Mundial porque recebeu fortes ajudas das potências capitalistas vitoriosas mais preocupadas em evitar o avanço do socialismo da então União Soviética pela Europa. É verdade que o chamado "milagre alemão" criou um padrão de desenvolvimento sustentado mas… sobretudo graças aos Estados Unidos da América (Tio Sam), que implementou o plano Marshal, emprestando à Alemanha dinheiro sem juros, mais para preservar os valores políticos e culturais, e claro para vender as suas mercadorias.
    Em 1953, os alemães assinaram um acordo que lhe perdoaria parte da dívida e lhe atribuiria juros favoráveis para pagar o restante. Levaram 40 anos para pagar essas dívidas que pagou só em parte e praticamente e sem juros.
    No entanto, hoje, a Alemanha é a principal credora de países como a Grécia ou Portugal e é contrária a um perdão dessa dívida. Com que moral?
    Por isso, e para mim, a Alemanha atendendo ao seu histórico racista e belicista (não nos podemos esquecer que destruiu praticamente duas vezes a Europa) nunca pode ser vista como um exemplo ou um modelo a seguir.
    Desculpa a discordância e o ter-me alongado tanto.
    Um abraço

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