O
futuro das nossas pensões (II)
O impacto da taxa de desemprego e dos subsídios de doença
Ainda recentemente “O Economista Insurgente” comparava,
com toda a propriedade, o nosso sistema de segurança social com o esquema da D.
Branca. De facto os benefícios a pagar a quem integra o sistema estão
dependentes da entrada de novos aderentes. E quando estes começam a escassear…
o esquema implode inapelavelmente.
Por isso se diz, e com razão, que com a quebra da
natalidade e com o aumento da esperança de vida o sistema está prestes a
estourar e tem de se mudar de paradigma. As soluções, a que não podemos fugir,
serão basicamente duas: ou o estado passa a assumir uma parte significativa das
pensões (o que obrigaria a aumentar os impostos) ou se caminha para um sistema
de capitalização, onde o valor das pensões estará associado de uma
forma muito direta (embora com os devidos ajustamentos) ao somatório das
contribuições individuais ao longo de toda uma vida profissional. Naturalmente
só esta segunda opção tem futuro e certamente acabará por colher, embora a
contragosto de muitos, a aceitação dos nossos concidadãos. Falaremos disto mais
tarde.
Mas a demografia e a esperança de vida não são os
únicos nem sequer os principais perigos que o nosso sistema de segurança social
enfrenta. Aliás, esses são problemas já há muito identificados e dimensionados,
deixando algum tempo (não muito, mas mesmo assim algumas décadas), para se
encontrar a solução. São uma simples bomba ao retardador. Mas há um outro
perigo muito mais imediato que ameaça fazer ruir o edifício: é o desemprego (a
que se associam os subsídios de doença, que para este efeito se podem englobar,
pois se comportam exatamente da mesma maneira).
Como é facilmente compreensível os subsídios de
doença e os subsídios de desemprego correspondem a situações em que as
contribuições para a segurança social diminuem e os encargos crescem. Isso todos
percebem. O que escapa à perceção imediata do cidadão comum é a dimensão que o
problema rapidamente assume.
Façamos umas contas muito simples: um desempregado
ou um doente, se receber um subsídio correspondente a 60% do seu salário bruto,
custará à Segurança Social muito mais que aquilo que esta receberia do
contribuinte num mês (34,75% do salário - 11% do trabalhador e 23,75% da sua
entidade patronal). É por isso evidente que com um nível de 50% de desemprego+doença se originariam muitos mais encargos que contribuições, nada restando
para pensões. Zero absoluto.
Fazendo um pouco melhor as contas: se o desemprego+doença
se aproximar de 35% já estaremos no referido patamar de esgotamento das
receitas só para pagar a essas classes de beneficiários. Estamos hoje longe
desse ponto? E temos verdadeiramente a noção do que isso significa? Vamos dar
um exemplo: imaginemos uma família com várias crianças e apenas 3 adultos a
contribuir para o orçamento familiar. As despesas da família estão ao nível das
receitas, pelo que não sobra nada na gaveta no final do mês. Como é que
sobreviverá esta família se um dos 3 adultos deixar de auferir salário ou
qualquer outro rendimento? E se, para cúmulo, essa pessoa passar a ir diariamente
ao cofre da família rapar dinheiro (reservado para as despesas do mês) para
gastar em despesas de saúde, nos copos ou no jogo? Como é que essa família irá
sobreviver?
Não sejamos tão pessimistas e vejamos então outro exemplo.
Admitamos que com zero doentes e desempregados o valor das contribuições para a
segurança social dava à justa para pagar as pensões. Com uma taxa de 20% de
desempregados+doentes (valor próximo da nossa situação real) as reduções das
contribuições conjugadas com o inerente aumento das despesas só deixarão livre
uma verba que dará para pagar… 45% das pensões. Pois, pois…
Façamos ainda outras contas mais favoráveis: vamos admitir,
bondosamente, que o sistema estava preparado para suportar uma taxa de
desemprego+doença à volta de 10%, permitindo mesmo assim pagar a totalidade das
pensões. Com o disparar do desemprego para os números que temos hoje as
contribuições só darão para pagar …63% das pensões.
As consequências do nosso nível de desemprego atual
é, para a segurança social, uma catástrofe de dimensões inimagináveis para quem
anda distraído ou é pouco dado a fazer contas. O efeito é devastador e o
reflexo aparece imediatamente nas contas da segurança social, não ficando meio
escondido, a dormitar, durante uma ou duas décadas.
Esta é uma questão de que pouco se fala, mas é o
mais dramático e premente problema que a Segurança Social enfrenta no curto
prazo, o qual só resolverá quando baixar drasticamente o número de
desempregados. E isso será daqui a quantos anos? E como sobreviveremos até lá?
Se recuarmos meia dúzia de anos, antes do flagelo
do desemprego que atualmente nos assola, provavelmente a segurança social tinha
assegurada a sua sustentabilidade por mais 30 ou 40 anos, mesmo tendo em conta o
problema da demografia e do aumento da esperança de vida. Com os níveis atuais
de desemprego todo o cenário mudou
instantânea e brutalmente. E o problema não acaba aqui: a estes números ainda
temos de juntar aquelas pessoas que estavam no ativo (a contribuir) e por
razões várias, que não a velhice, passaram entretanto à reforma (atente-se, por
exemplo, no caso dos professores e outros funcionários públicos).
Com o nível atual de inativos (que deixaram de ser
contribuintes e passaram a ser beneficiários) a sustentabilidade da segurança social,
de repente, reduziu-se a fanicos. Agora, ou o Estado entra com dinheiro para as
pensões ou então…
(continua)
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