O
futuro das nossas pensões (VI)
As migrações
Uma palavra rápida sobre a importância das
migrações. As migrações podem ter um efeito positivo sobre a sustentabilidade
do sistema ou um efeito negativo. A imigração (chegada de estrangeiros ao nosso
país) dá um novo fôlego ao sistema, pois traduz-se, durante alguns anos, num
aumento das receitas da segurança social. Mas quando essas gerações de
imigrantes passarem a usufruir dos benefícios da reforma o ciclo inverte-se, e
só um desproporcionado surto imigratório poderia estabelecer a compensação.
Já a emigração tem um efeito terrível, porquanto a
saída de portugueses para o estrangeiro (ou a saída de estrangeiros que cá
estavam radicados) provoca os efeitos negativos já analisados associados à
diminuição dos contribuintes.
A mudança para um sistema de capitalização
Chegamos então a um ponto em que manifestamente
teremos de mudar de paradigma e procurar soluções drásticas para o problema. Desde
há muito se fala na passagem a um sistema de capitalização.
Basicamente pretende-se indexar o valor das pensões de uma forma mais ou menos
direta (embora com os devidos ajustamentos) ao somatório das contribuições
individuais ao longo de toda uma vida profissional. Este sistema tanto pode ser
desenvolvido dentro do sistema público (ADSE/Segurança Social) como ser uma
agregação de um sistema obrigatório com um sistema complementar facultativo, gerido
por fundos privados ou seguradoras. A filosofia muda radicalmente, na medida em
que o valor das pensões terá de estar associado às quotizações do trabalhador e
contribuições das entidades empregadoras e não mais ficará dependente da
entrada de novos aderentes para garantir os fundos necessários ao pagamento das
pensões. O problema da demografia e da esperança de vida, que até aqui tinha praticamente
um efeito nulo no cálculo das pensões, passará a ter um reflexo direto no valor
das mesmas, com um efeito cujo impacto analisei em post’s anteriores.
A importância do número de anos de desconto
Vamos agora analisar a importância do número de
anos de desconto, que dentro do novo esquema passa a ser a variável mais
determinante. Peguemos no exemplo de um trabalhador que inicia a atividade
profissional aos 25 anos, reforma-se aos 65 anos e vive até aos 80 anos. Ou
seja, trabalha 40 anos e vive da reforma durante 15 anos. Pois se esse
trabalhador antecipar a reforma para os 60 anos só poderá receber 66% da pensão
normal (sofrendo um corte de um terço na pensão) pois trabalhou 35 e vai viver da reforma 20 anos. Repare-se no efeito brutal que
tem uma antecipação de 5 anos: são menos 5 anos de descontos e uma ampliação
enorme do período da reforma. E se a antecipação for para os 55 anos só deverá
receber 45% da pensão. E se se reformar aos 50 os descontos efetuados só
permitirão receber 31% (trabalha 25 anos e vive da reforma 30 anos).
Todos nós conhecemos pessoas que se reformaram
perto dos 50 anos. Só deveriam receber menos de um terço da pensão normal, mas
muitas estão a receber pensão completa. É este efeito que precisa de ser bem
compreendido, sob pena de nunca percebermos o buraco onde estivemos metidos.
Com o recente esquema de cortes em função do número de anos de antecipação já
foi dado um passo significativo, embora ainda insuficiente. Este tipo de
reformas tem de ser gradual e as razões têm de ser bem assimiladas pelos
destinatários.
As taxas de desconto - quotização (dos trabalhadores) e contribuição das
entidades patronais.
O impacto destas taxas não oferece dificuldades de
compreensão, pois as receitas são diretamente proporcionais às variações das
taxas.
(continua)
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