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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sexta-feira, 13 de junho de 2014


O futuro das nossas pensões (VII) (Conclusão)

A dimensão das pensões no futuro

Tendo analisado o impacto de diversas variáveis na cálculo de uma pensão – taxa de desemprego, migrações, data de início da atividade, anos de desconto, taxas de desconto, esperança de vida - vamos finalmente  procurar encontrar um ou vários mixes socialmente aceitáveis e que permitam atingir reformas decentes no futuro.

Julgo que a melhor forma de abordar este tema é apresentar vários exemplos práticos que permitam ao leitor ficar de imediato com uma ideia clara do ponto até onde poderão ir as pensões.

Há aqui alguns pontos prévios que precisam de clarificação: a) é fundamental começar por referir que os números que vou apresentar são meramente indicativos, calculados sobre uma matriz muito básica, onde não se entra em linha de conta com eventuais resultados de investimentos financeiros fruto da utilização dos descontos que se vão acumulando ao longo dos anos; b) também não entro em linha de conta com os custos de gestão do sistema, que naturalmente vai retirar alguns meios que em princípio deveriam estar afetos ao pagamento de pensões; c) a observação mais importante é esta: são considerados sempre apenas os anos efetivos de contribuições, o que significa que as situações de doença ou eventual desemprego têm de ser tidos em conta. Vou dar um exemplo: quem inicia a atividade aos 25 e se reforma aos 65 teria em princípio 40 anos de contribuições. Mas se esteve 3 anos doente e 2 anos desempregado só contam 35. E esses mesmos 5 anos terão de ser considerados como equivalentes a tempo de reforma, pois trata-se de um período em que o trabalhador não efetuou descontos mas usufruiu de benefícios.

Nas simulações aqui apresentadas considerei as taxas de desconto até aqui praticadas (11% por parte do trabalhador e 23,75% da entidade patronal), pois são variáveis socialmente muito sensíveis e pouco elásticas. E como a esperança de vida também não sofrerá variações significativas no curto prazo, vou considerar que é de 82 anos. Vejamos então com alguns exemplos o que será expectável:

Alguém que inicie a vida profissional aos 28 anos e se reforme aos 60 só pode ter uma reforma de 51% do seu salário. Já se tiver começado a trabalhar aos 25 e se se reformar aos 62 a reforma será de 64%. Se se reformar aos 65 terá 82% e se se reformar aos 66 a reforma pode subir para os 89%. Para se visualizar melhor:

         - 28 – 60 – 51%

         - 25 – 62 – 64%

         - 25 – 65 – 82%

         - 25 – 66 – 89%

E se a esperança de vida subir para os 85 anos bastará ao trabalhador atrasar a reforma 2 anos para conseguir atingir os valores acima apontados.

Podemos seguir outra metodologia: sabendo com que idade se iniciou a atividade profissional e conhecendo a esperança de vida, podemos calcular com que idade se deve reformar para atingir determinado valor da pensão, ou então qual o valor da pensão se se reformar em determinada idade.

Exemplo: o trabalhador iniciou a atividade profissional aos 25 anos e a esperança de vida passou a 85 anos. Se se reformar aos 64 anos terá uma pensão de 65% Para uma pensão de 81% teria de se reformar aos 67. Mas já conseguiria uma pensão de 88% se se reformar apenas aos 68 anos.

                   - 25  - 64 – 65%

                   - 25 – 67 – 81%

                   - 25 – 68 – 89%

Como se constata por estes números não é muito difícil termos no futuro pensões decentes. O que não é possível é consegui-las com taxas de desemprego muito elevadas, com muita gente em casa a receber subsídio de doença e com reformas conseguidas muitos anos antes do limite de idade. Assim nunca.

Acabe-se com o cancro das reformas antecipadas, mantenham-se os contratempos inevitáveis (desemprego e doença) dentro de valores aceitáveis e podemos ficar seguros que os nossos netos poderão usufruir de reformas decentes. Infelizmente julgo que isto só será possível se cada um colher benefícios em função da sua contribuição. A solidariedade é um valor que muito prezo, mas nem sempre funciona. Julgo que no futuro ninguém estará disponível para subsidiar pensões de pessoas que se querem reformar aos 55 anos.

 

2 comentários:

  1. Bom trabalho, Alexandre! Foste claro e objectivo na análise deste tema que, para nós, é tão pertinente e actual. Os exemplo técnicos que aqui foste deixando deveriam ser lidos e bem interpretados por quem governa (e desgoverna) este País. Pode ser que, pelo menos, adquirissem consciência de que, quando se corta na aposentação dos ex-funcionários públicos, se deve ter justo e isento não deixando de fora dos cortes os amigos e algumas classes mais privilegiadas. Refiro-me concretamente aos magistrados e diplomatas que (pelos vistos) não serão afectados pelo corte permanente nas pensões, a tal Contribuição de Sustentabilidade que vem substituir a Contribuição Extraordinária de Solidariedade.
    Um abraço e... continua a teclar :-)

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  2. Fico contente por poder ser útil. Isso encoraja-me a continuar.
    Um abraço

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