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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

terça-feira, 6 de maio de 2014


A diferença entre tendência e resultado

Vai terminar (oficialmente) o período acordado para a permanência da troika entre nós.

Não vou entrar aqui na querela da saída mais ou menos “limpa”. Mas interessa-me refletir sobre a situação em que está o país no momento da “saída”.

De um lado e do outro da barricada vejo debitar argumentos que me levam a clarificar dois conceitos: o conceito de tendência e o conceito de resultado. Para o efeito vou começar por usar uma analogia com o desporto, que se presta às mil maravilhas para explicar e fazer perceber o que pretendo.

Imaginemos uma equipa que entrou mal no jogo e rapidamente ficou a perder por 10 a zero. Depois foi gradualmente recuperando, e levou para o intervalo o resultado em 10 a 4.

O resultado parece que não deixa dúvidas – é claramente desfavorável, por 10 a 4. Mas a tendência dos últimos minutos de jogo foi de franca (mas insuficiente) recuperação, deixando para trás um período francamente mau, mas sem conseguir mudar o sentido do resultado.

Passemos agora a uma situação com incidência económica: alguém que chegou a ganhar 1.000 viu os seus rendimentos descerem para 950, depois 900, a seguir 850, para se estatelar nos 800. Depois iniciou uma recuperação, passando a 810, 820, 830 e 840.

A tendência recente é de clara e até consolidada recuperação (de 800 para 840, sempre a subir em 4 períodos consecutivos), embora o resultado continue claramente desastroso: de um rendimento de 1.000 passou para 840.

O que mais se ouve neste momento no nosso país são comentários díspares, emitidos consoante queiramos ver o copo meio cheio ou meio vazio. Quem quer ver o copo meio cheio deita foguetes porque há sinais evidentes de que se iniciou uma recuperação. Quem quer ver o copo meio vazio chama a atenção para o resultado do jogo, que continua a ser-nos altamente desfavorável.

No desporto qualquer golo marcado é particularmente festejado pelo autor, que merece os parabéns, e é fonte de regozijo e incentivo a que a equipa se motive e galvanize, passando a jogar cada vez melhor. Mas, por mais sensacional que esteja a ser a recuperação, não é curial que ao intervalo, se deitem foguetes, muito menos se marcador ainda continua a ser-nos profundamente desfavorável.

Saibamos distinguir tendência e resultado. Festejemos sobriamente os golos que vamos marcando, mas guardemos os foguetes para o fim do jogo. E nessa altura, não tenhamos dúvidas nem ilusões: de nada vale o pressing final nem as “tendências” de melhoria do marcador nos últimos minutos. Só o “resultado final” é que conta.

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