A diferença entre tendência e resultado
Vai
terminar (oficialmente) o período acordado para a permanência da troika entre
nós.
Não
vou entrar aqui na querela da saída mais ou menos “limpa”. Mas interessa-me refletir sobre a situação em que está o
país no momento da “saída”.
De
um lado e do outro da barricada vejo debitar argumentos que me levam a
clarificar dois conceitos: o conceito de tendência e o conceito de resultado.
Para o efeito vou começar por usar uma analogia com o desporto, que se presta
às mil maravilhas para explicar e fazer perceber o que pretendo.
Imaginemos
uma equipa que entrou mal no jogo e rapidamente ficou a perder por 10 a zero.
Depois foi gradualmente recuperando, e levou para o intervalo o resultado em 10
a 4.
O
resultado parece que não deixa dúvidas – é claramente desfavorável, por 10 a 4.
Mas a tendência dos últimos minutos de jogo foi de franca (mas insuficiente) recuperação,
deixando para trás um período francamente mau, mas sem conseguir mudar o
sentido do resultado.
Passemos
agora a uma situação com incidência económica: alguém que chegou a ganhar 1.000
viu os seus rendimentos descerem para 950, depois 900, a seguir 850, para se
estatelar nos 800. Depois iniciou uma recuperação, passando a 810, 820, 830 e
840.
A
tendência recente é de clara e até consolidada recuperação (de 800 para 840,
sempre a subir em 4 períodos consecutivos), embora o resultado continue
claramente desastroso: de um rendimento de 1.000 passou para 840.
O
que mais se ouve neste momento no nosso país são comentários díspares, emitidos
consoante queiramos ver o copo meio cheio ou meio vazio. Quem quer ver o copo
meio cheio deita foguetes porque há sinais evidentes de que se iniciou uma
recuperação. Quem quer ver o copo meio vazio chama a atenção para o resultado
do jogo, que continua a ser-nos altamente desfavorável.
No
desporto qualquer golo marcado é particularmente festejado pelo autor, que merece
os parabéns, e é fonte de regozijo e incentivo a que a equipa se motive e galvanize,
passando a jogar cada vez melhor. Mas, por mais sensacional que esteja a ser a recuperação,
não é curial que ao intervalo, se deitem foguetes, muito menos se marcador
ainda continua a ser-nos profundamente desfavorável.
Saibamos
distinguir tendência e resultado. Festejemos sobriamente os golos
que vamos marcando, mas guardemos os foguetes para o fim do jogo. E nessa
altura, não tenhamos dúvidas nem ilusões: de nada vale o pressing final nem as
“tendências” de melhoria do marcador
nos últimos minutos. Só o “resultado
final” é que conta.
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