POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Continuação)
I – O período da troika (2011-2014)
A
minha análise será essencialmente técnica e factual, evitando a abordagem
ideológica e/ou partidária, ou sequer de responsabilização dos agentes
envolvidos. E quando falar em troika será por simplificação de linguagem, pois
obviamente terá de ser incluído o governo de Portugal. A solução apresentada
pela troika baseava-se numa receita clássica que era um cocktail de “remédios”
vários, que deveriam atacar em simultâneo o nosso sistema económico-financeiro.
Vou passar ao lado da ideologia subjacente a este modelo, detendo-me nas vertentes
económicas e financeiras e nos seus resultados práticos. A solução correspondia,
grosso modo, à 4.ª via que identifiquei nos post’s anteriores, ou seja um
cocktail assente nos seguintes “ingredientes”:
1
– redução da despesa – vertente absolutamente indispensável.
2
– aumento das receitas (via impostos) – também absolutamente indispensável.
3
– crescimento do PIB – via desejável,
embora reconhecida como impossível numa fase inicial do processo de ajustamento
, mas apontada como meta para o futuro.
4
– redução dos custos de financiamento (redução de taxas de juro ou aumento dos
prazos de pagamento) – via desejável,
mas considerada fora do controlo de Portugal e da Troika.
Vamos
ver como os vários “ingredientes” potenciaram o efeito deste “cocktail”. As
vertentes 3 e 4, vias desejáveis,
tiveram um comportamento desolador até perto da data da saída da troika. O seu
contributo para o resultado final foi absolutamente desastroso. Daí que as
vertentes 1 e 2, indispensáveis, tiveram
de ver a receita aplicada em doses cavalares, para compensar.
A
troika manteve sempre invariavelmente os ingredientes da receita, mas foi
ajustando as quantidades de cada um à evolução da “doença” e às reações do
doente.
Já
muito próximo da saída da troika houve uma inversão do comportamento do PIB e
das condições de financiamento: as taxas de juros deram uma cambalhota verdadeiramente
imprevisível e o PIB, finalmente, iniciou o processo de crescimento. Foram sinais
extraordinariamente positivos, que devem ser saudados, mas que, não só pela sua
insuficiente dimensão, como pelo escasso tempo em que foram aplicados, não
alteraram praticamente nada os resultados desastrosos do período da troika,
limitando-se a criar expectativas para o futuro.
(Continua)
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