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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quarta-feira, 21 de maio de 2014


POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Continuação)
I – O período da troika (2011-2014)
A minha análise será essencialmente técnica e factual, evitando a abordagem ideológica e/ou partidária, ou sequer de responsabilização dos agentes envolvidos. E quando falar em troika será por simplificação de linguagem, pois obviamente terá de ser incluído o governo de Portugal. A solução apresentada pela troika baseava-se numa receita clássica que era um cocktail de “remédios” vários, que deveriam atacar em simultâneo o nosso sistema económico-financeiro. Vou passar ao lado da ideologia subjacente a este modelo, detendo-me nas vertentes económicas e financeiras e nos seus resultados práticos. A solução correspondia, grosso modo, à 4.ª via que identifiquei nos post’s anteriores, ou seja um cocktail assente nos seguintes “ingredientes”:
1 – redução da despesa – vertente absolutamente indispensável.
2 – aumento das receitas (via impostos) – também absolutamente indispensável.
3 – crescimento do PIB – via desejável, embora reconhecida como impossível numa fase inicial do processo de ajustamento , mas apontada como meta para o futuro.
4 – redução dos custos de financiamento (redução de taxas de juro ou aumento dos prazos de pagamento) – via desejável, mas considerada fora do controlo de Portugal e da Troika.
Vamos ver como os vários “ingredientes” potenciaram o efeito deste “cocktail”. As vertentes 3 e 4, vias desejáveis, tiveram um comportamento desolador até perto da data da saída da troika. O seu contributo para o resultado final foi absolutamente desastroso. Daí que as vertentes 1 e 2, indispensáveis, tiveram de ver a receita aplicada em doses cavalares, para compensar.
A troika manteve sempre invariavelmente os ingredientes da receita, mas foi ajustando as quantidades de cada um à evolução da “doença” e às reações do doente.
Já muito próximo da saída da troika houve uma inversão do comportamento do PIB e das condições de financiamento: as taxas de juros deram uma cambalhota verdadeiramente imprevisível e o PIB, finalmente, iniciou o processo de crescimento. Foram sinais extraordinariamente positivos, que devem ser saudados, mas que, não só pela sua insuficiente dimensão, como pelo escasso tempo em que foram aplicados, não alteraram praticamente nada os resultados desastrosos do período da troika, limitando-se a criar expectativas para o futuro.
(Continua)
 

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