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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quinta-feira, 22 de maio de 2014


POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Continuação)

II – O período pós troika (após 2014)

Ao contrário do que se possa pensar, o período pós-troika vai ser completamente diferente do anterior no que respeita à “receita” a aplicar. Vamos ter necessariamente de aplicar um “cocktail” exatamente com os ingredientes anteriores, mas variando completamente as doses de cada um. Numa determinada perspetiva será “mais do mesmo”, mas noutra perspetiva é uma solução completamente diferente.

Como em qualquer tratamento médico, a medicação terá de ter em conta a reação do organismo aos tratamentos anteriores. E desde logo há a destacar um aspeto fundamental: os “ingredientes” 3 e 4 – crescimento do PIB e redução dos custos de financiamento – passaram de desejáveis a absolutamente indispensáveis, ou seja, passaram a ser fatores críticos. O crescimento (negativo) do PIB, que antes não passava de um “efeito colateral”, passa a ser a chave do êxito. E o custo e as condições do financiamento, que escapavam ao nosso controlo, têm de passar a ser variáveis razoavelmente controladas (por nós e/ou pela Europa), sob pena de total fracasso, ou sujeição a movimentos erráticos, ao sabor dos “humores” do mercado. Aqui o papel da Europa será absolutamente crucial.

Já os “ingredientes” 1 e 2 – redução de despesas e aumento de receitas – continuam a ser indispensáveis no cocktail de fármacos a utilizar, mas com efeito “terapêutico” já muito reduzido. As doses cavalares aplicadas no período da troika tornam os seus efeitos pouco eficazes e o nosso organismo já só aceita doses muito reduzidas, sob pena de o nosso sistema imunológico colapsar e morrermos da cura. O “ai aguenta, aguenta” tem limites. E ai de quem não o perceber e não souber dimensionar.

Estamos, assim, confinados a um equilíbrio instável num caminho estreito, onde o aumento do PIB é praticamente o único fator capaz de nos tirar deste buraco. Mas só a redução dos custos do financiamento nos permite obter condições para aumentar o PIB, dada a premência dos investimentos a fazer para o podermos aumentar.

Estamos, assim, como a pescadinha de rabo na boca, havendo condicionantes que escapam completamente ao nosso controlo, pois a solução acaba sempre por passar por melhores condições de financiamento, o que por sua vez é condição absolutamente necessária para aumentarmos o PIB. Ou seja, chegamos a um ponto em que, mesmo que da nossa parte façamos tudo bem feito, nada nos garante que venhamos a ter êxito. Atenção, isto não quer dizer, de maneira nenhuma, que estejamos condenados. Aliás, continuo moderadamente confiante. Isto significa apenas que não temos o nosso destino na nossa mão. E quem disser o contrário ou é ignorante ou mente. Ou então aceita a continuação do nosso processo de empobrecimento.

Importa, por isso, dedicar um post a analisar as condições de financiamento.
(continua)

 

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