POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Continuação)
III – Condições de financiamento – a “(i)racionalidade”
dos mercados
Muito
se tem dito sobre a (i)racionalidade dos mercados e sobre a necessidade de nos
submetermos aos seus ditames. Importa desde logo distinguir a “racionalidade”
vista pelo ângulo do credor e a “racionalidade” vista pelo ângulo do devedor. Socorro-me
aqui da minha experiência na gestão de empresas, principalmente a lidar com a
banca e com fornecedores.
A
“racionalidade” do credor é vista essencialmente em dois aspetos: a
possibilidade de obtenção do maior ganho possível nos investimentos financeiros
que faz e a “perceção” do risco do negócio. Falo em perceção e não em risco
real. O que move o investidor em matéria de risco é o risco que ele julga que
exista, através do que sabe, do que ouve, do que imagina. Pode ter razão, ou
pode mesmo não ter razão absolutamente nenhuma. Pode ser induzido em erro por
agências de rating ou por boatos; pode atuar por conhecimento oriundo de
informações privilegiadas que detenha, não importa como; pode decidir apenas em
função do que julga ser a capacidade do credor para pagar ou do que julga ser a
sua simples vontade de o fazer ou a perspetiva de fuga às responsabilidades. E
se é difícil convencer um credor quando o risco é real, talvez mais difícil
ainda é convencê-lo quando a sua “perceção” está errada.
Outro
aspeto a ter em conta é o “horror” destes investidores a terem dinheiro parado,
o que vulgarmente é sinónimo de perda. O dinheiro anda sempre a girar e
qualquer abalo é suficiente para fazê-lo
“mudar de poiso”.
Esta
é a racionalidade do credor que, é fácil de ver, tem tanto de racional quanto
de irracional e incompreensível. E o que se passou em 2008 (subidas brutais das
taxas de juro) e o que se está a passar agora (quedas impensáveis das taxas de
juro) aí está para o demonstrar.
(continua)
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