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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sexta-feira, 23 de maio de 2014


POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Continuação)

III – Condições de financiamento – a “(i)racionalidade” dos mercados

Muito se tem dito sobre a (i)racionalidade dos mercados e sobre a necessidade de nos submetermos aos seus ditames. Importa desde logo distinguir a “racionalidade” vista pelo ângulo do credor e a “racionalidade” vista pelo ângulo do devedor. Socorro-me aqui da minha experiência na gestão de empresas, principalmente a lidar com a banca e com fornecedores.

A “racionalidade” do credor é vista essencialmente em dois aspetos: a possibilidade de obtenção do maior ganho possível nos investimentos financeiros que faz e a “perceção” do risco do negócio. Falo em perceção e não em risco real. O que move o investidor em matéria de risco é o risco que ele julga que exista, através do que sabe, do que ouve, do que imagina. Pode ter razão, ou pode mesmo não ter razão absolutamente nenhuma. Pode ser induzido em erro por agências de rating ou por boatos; pode atuar por conhecimento oriundo de informações privilegiadas que detenha, não importa como; pode decidir apenas em função do que julga ser a capacidade do credor para pagar ou do que julga ser a sua simples vontade de o fazer ou a perspetiva de fuga às responsabilidades. E se é difícil convencer um credor quando o risco é real, talvez mais difícil ainda é convencê-lo quando a sua “perceção” está errada.

Outro aspeto a ter em conta é o “horror” destes investidores a terem dinheiro parado, o que vulgarmente é sinónimo de perda. O dinheiro anda sempre a girar e qualquer abalo é suficiente para fazê-lo  “mudar de poiso”.

Esta é a racionalidade do credor que, é fácil de ver, tem tanto de racional quanto de irracional e incompreensível. E o que se passou em 2008 (subidas brutais das taxas de juro) e o que se está a passar agora (quedas impensáveis das taxas de juro) aí está para o demonstrar.
(continua)

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