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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

quinta-feira, 29 de maio de 2014


Portugal será capaz?

Para sabermos do que verdadeiramente somos capazes precisamos de começar por revisitar a nossa história. Não vamos recuar ao tempo das conquistas aos mouros, da luta pela independência face a Castela ou ao período épico dos descobrimentos. Recuemos apenas algumas décadas e analisemos um lustro (período de 5 anos) da nossa economia.

Nota: todos estes valores foram calculados a preços constantes, de forma a tornar irrelevante o efeito erosivo da inflação)

- o nosso PIB cresceu a uma taxa média de 4,2%

- 0 PIB per capita cresceu 20% nesse período de 5 anos

- a nossa dívida em valores brutos, cresceu apenas 0,06%

- a dívida em relação ao PIB desceu de 59,2% para 48,4% (único período da nossa história recente em que isso aconteceu de forma consolidada, em 5 anos consecutivos

- a taxa de desemprego desceu de 7,1% para 3,9%.

De registar ainda que nesse período:

- as nossas exportações representavam apenas cerca de 28% do PIB

- a taxa média dos juros foi 6,7%, significativamente acima das melhores taxas que o mercado nos exige atualmente e que hoje seria verdadeiramente escandalosa e absolutamente incomportável

- as despesas cresceram a uma taxa média de 4,1%, valor que hoje seria quase um sacrilégio

- O nosso deficit médio foi 2,9%, abaixo do valor máximo que durante muitos anos a comunidade europeia aceitava (3%).

Se confrontarmos estes valores com os aterradores números da atualidade, se pensarmos em taxas de crescimento superiores a 4%, se voltássemos a ter uma dívida inferior a 50% do PIB, se pudéssemos hoje sonhar com taxas de desemprego inferiores a 4%, até parece que voltaríamos a um qualquer paraíso perdido. Mas atenção, nos anos seguintes a história começou a mudar, até chegarmos ao ponto onde estamos hoje.
Os leitores estarão certamente a perguntar: quando é que foi isso? Terá sido nos já distantes tempos do marcelismo? Frio, frio. Foi num período que todos os que me leem vivenciaram, imediatamente antes da chamada década perdida, que há pouco tempo aqui analisei. Estes números são precisamente do período que vai de 1995 a 2000.


Importa agora saber em que contexto é que tudo isto aconteceu, e comparar com a situação que temos vindo a viver desde 2008. É o que farei no próximo post.

(continua)













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