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Mistura de pensamentos, reflexões, sentimentos; um risco, assumido; uma provocação, em tom de desafio, para que outros desçam ao terreiro; um desabafo, às vezes com revolta à mistura; opiniões, sempre subjectivas, mas normalmente baseadas no estudo, ou na experiência ou na reflexão. Sem temas tabu, sem agressividades inúteis, mas sem contenção, nem receios de ser mal interpretado. Espaço de partilha, que enriquece mais quem dá que quem recebe.

sábado, 24 de maio de 2014


POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Conclusão)

IV – a racionalidade dos devedores

 Do ponto de vista do devedor o problema da racionalidade é completamente diferente do ponto de vista do credor. Regra geral ninguém melhor que o devedor sabe se vai ou não ter condições para pagar as suas dívidas. E melhor que ninguém sabe se as quer pagar ou se vai tentar “passar a perna” ao credor. Daí que, na lógica do devedor, é frequente, quando está de boa fé e com vontade de cumprir, ele não perceber nem aceitar os argumentos do credor quando este coloca entraves ao financiamento que o devedor considera excessivos ou injustificados.

Se o devedor quer pagar e se acha que o pode fazer, o que pretende é que o credor lhe conceda condições justas e aceitáveis. E sente como pura irracionalidade ver que o credor não lhe proporciona essas condições que lhe iriam permitir pagar o que deve. Se essas condições não lhe forem proporcionadas ele pode mesmo acabar por se tornar um devedor incumpridor, quando a sua vontade era cumprir.

Que conclusões tirar daqui? Devedores e credores terão sempre “perspetivas” diferentes sobre a situação. Mas se o credor e devedor, para além das naturais divergência de perspetiva tiverem, além disso, “visões” objetivamente diferentes sobre a situação real, isso vai implicar um processo negocial longo e de sucesso nem sempre garantido. No caso de uma empresa, convencer um banco ou um fornecedor a dar apoio exige uma atitude de muita paciência, muita capacidade argumentativa e apresentação de “provas” da nossa vontade e da nossa capacidade. Com os países é exatamente o mesmo. Preparemo-nos, pois, para este processo longo, penoso e de resultado incerto. O “Manifesto dos 70”, abstraindo do problema do timing, da forma e dos interlocutores, aponta um caminho absolutamente incontornável. Comecemo-lo quando podermos, chamemos-lhe reforma da dívida, reestruturação da dívida, perdão parcial, alongamento dos prazos, negociação de taxas ou o que quisermos. Mas vamos ter de meter pés a caminho, escolher os parceiros, apresentar provas da nossa vontade e da nossa capacidade e negociar a solução. Ou então esperar que a solução nos caia do céu, como parece estar a acontecer. Até quando? E depois?

Já agora uma observação: que acham de uma empresa que tivesse planos de investimento e, tendo em determinada altura acesso facilitado ao crédito, fosse meter o dinheiro no colchão?  Será que verdadeiramente sabemos o que queremos e temos planos de desenvolvimento?

 

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