POR ONDE PASSAM AS SOLUÇÕES PARA PORTUGAL? (Conclusão)
IV – a racionalidade dos devedores
Do ponto de vista do devedor o problema da racionalidade
é completamente diferente do ponto de vista do credor. Regra geral ninguém
melhor que o devedor sabe se vai ou não ter condições para pagar as suas
dívidas. E melhor que ninguém sabe se as quer pagar ou se vai tentar “passar a
perna” ao credor. Daí que, na lógica do devedor, é frequente, quando está de
boa fé e com vontade de cumprir, ele não perceber nem aceitar os argumentos do
credor quando este coloca entraves ao financiamento que o devedor considera
excessivos ou injustificados.
Se
o devedor quer pagar e se acha que o pode fazer, o que pretende é que o credor
lhe conceda condições justas e aceitáveis. E sente como pura irracionalidade
ver que o credor não lhe proporciona essas condições que lhe iriam permitir
pagar o que deve. Se essas condições não lhe forem proporcionadas ele pode
mesmo acabar por se tornar um devedor incumpridor, quando a sua vontade era
cumprir.
Que
conclusões tirar daqui? Devedores e credores terão sempre “perspetivas”
diferentes sobre a situação. Mas se o credor e devedor, para além das naturais divergência
de perspetiva tiverem, além disso, “visões” objetivamente diferentes sobre a
situação real, isso vai implicar um processo negocial longo e de sucesso nem
sempre garantido. No caso de uma empresa, convencer um banco ou um fornecedor a
dar apoio exige uma atitude de muita paciência, muita capacidade argumentativa
e apresentação de “provas” da nossa vontade e da nossa capacidade. Com os
países é exatamente o mesmo. Preparemo-nos, pois, para este processo longo,
penoso e de resultado incerto. O “Manifesto dos 70”, abstraindo do problema do
timing, da forma e dos interlocutores, aponta um caminho absolutamente
incontornável. Comecemo-lo quando podermos, chamemos-lhe reforma da dívida,
reestruturação da dívida, perdão parcial, alongamento dos prazos, negociação de
taxas ou o que quisermos. Mas vamos ter de meter pés a caminho, escolher os
parceiros, apresentar provas da nossa vontade e da nossa capacidade e negociar a
solução. Ou então esperar que a solução nos caia do céu, como parece estar a
acontecer. Até quando? E depois?
Já
agora uma observação: que acham de uma empresa que tivesse planos de
investimento e, tendo em determinada altura acesso facilitado ao crédito, fosse
meter o dinheiro no colchão? Será que
verdadeiramente sabemos o que queremos e temos planos de desenvolvimento?
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