Portugal
será capaz? (conclusão do post anterior)
Se queremos saber se, enquanto povo e nação autónoma, somos capazes de
dar a volta a uma situação complicada, não chega olhar para a história e
regozijar-nos com os períodos de ouro que vivemos. Cada momento é único e as
condições em que se operou são determinantes. O que não há dúvida é que os
genes estão cá, e se noutras ocasiões conseguimos, provavelmente voltaremos a
conseguir… desde que se criem as condições adequadas.
Vou aqui apresentar algumas explicações (algumas eventualmente
polémicas) que são apenas um pequeno contributo para a discussão do problema e
para a abertura de uma frente de diálogo. Para além dos comentários que os meus
leitores possam fazer, certamente irão acrescentar muitos tópicos à minha
análise que, aliás, quero deixar propositadamente incompleta e polémica.
Começo por fazer um pequeno enquadramento da situação sócio-política
vivida na altura em Portugal. No período 1995/2000 tivemos um governo de caras
novas, gente cheia de vontade de mudar, após um período natural e inevitável de
desgaste, cansaço e esgotamento de um governo que estava há muitos anos à
frente do país. Conclusão: sem se pôr em causa o que vem de trás, por vezes é
absolutamente necessário mudar os rostos e injetar sangue novo. Acresce que se
viveu um período de paz social, fator não despiciendo para se mobilizar um país
para os desafios que se têm de enfrentar. O crescimento económico foi
potenciado por um clima social de otimismo, quase se diria de euforia, que,
pese embora os riscos que comporta (como veremos mais tarde), propicia a
envolvência das pessoas e potencia enormemente o crescimento. A opção foi
claramente pelo crescimento económico, pela criação de infra-estruturas e pela
redução das desigualdades sociais. A despesa foi considerada uma variável
meramente instrumental.
Já no tocante às condicionantes externas essas são profundamente
contrastantes com as atuais. Desde logo a comunidade europeia vivia ainda um
período onde a solidariedade era um valor fundamental no projeto europeu e a convergência
dos diversos países era um objetivo assumido e a redução de assimetrias era uma
realidade que os países mais atrasados sentiam e viam. Havia um “espírito
europeu”, uma emergente cultura europeia, um orgulhoso sentimento de pertença. A
Europa comunitária era um projeto de êxito, um orgulho para quem já lá estava,
uma expectativa e um sonho para os que queriam entrar, uma inveja para quem
nunca a poderia vir a integrar. Os fluxos financeiros eram fáceis, de uma
grandeza descomunal, quase sem limites. O dinheiro corria a jorros, sendo usado
para o que era necessário e para o consumo perdulário. No rating das nações não
havia lixo, mas apenas classificações excelentes. Ainda não se sentiam os
efeitos (sociais, políticos e económicos) da implosão da União Soviética e da
queda do muro de Berlim. Os mercados financeiros ainda não tinham grandes
“bolhas” que pudessem explorar nem ousavam atacar vítimas indefesas na Europa.
Foi este contexto que, simultaneamente, proporcionou o crescimento e a
vivência dos anos de ouro de Portugal e da Europa, mas que deixou cair na terra
as sementes que anos mais tarde nos haveriam de conduzir ao empobrecimento
coletivo.
Hoje sabemos (nós e a Europa) o que é que fizemos bem e o que é que fizemos
mal. A opção devia ser uma: tentar repetir o que fizemos bem, sem cometer os
erros onde caímos antes. Mas hoje os tempos são completamente outros. Todavia, não
podemos esquecer que os cidadãos, quem produz riqueza e quem consome, são as
mesmas pessoas. Mas as “elites” dirigentes mudaram. Nos organismos europeus e nos
governos nacionais da altura já lá não está ninguém. Dessa época restam apenas
os povos. Agora tristes, acabrunhados, temerosos, descrentes.
Don’t cry for me, Europe!
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